A declaração de Lula, de que no Brasil Jesus teria que se aliar a Judas se quisesse governar, continua rendendo polêmica. Fui chamada a opinar em programa de rádio nesta manhã (9h30 na Gaúcha). Na verdade a discussão é sobre a legitimidade das alianças que Lula e o PT vêm fazendo, juntando-se a Collor de Mello, Sarney, Renan Calheiros e muitos outros da mesma espécie mas menos famosos. Tudo seria em nome da governabilidade, pois sem essas alianças Lula não conseguiria governar. Então quero discutir justamente isso. Afinal, para que tipo de medidas Lula necessita desses aliados? Seria para aumentar o salário mínimo, ou as aposentadorias? Seria quem sabe para acabar com o fator previdenciário que penaliza brutalmente quem vai se aposentar? Ou seria para implementar a proposta que regulamenta o imposto sobre grandes fortunas (aliás, proposta de minha autoria que há mais de ano aguarda votação)? Ou seria para a ampliação dos gastos na saúde ou educação, cortando as despesas com a dívida pública, que de fato é a maior no orçamento de cada ano? Não, nada disso. Lula precisa dessa base de sustentação para fazer o exato inverso disso tudo. Por exemplo, para impedir que o projeto que acaba com o fator previdenciário e o que aumenta as aposentadorias e pensões seja votado na Câmara. Para isso ele conta com os precisos apoios de Michel Temer, presidente da Câmara, e do PMDB, que controlando a pauta das sessões não põe as propostas em votação. Dou esse exemplo bem concreto para que todos compreendam o mecanismo da governabilidade. Ela serve para que medidas contra os interesses do povo sejam aprovadas ou mantidas, e não o inverso. Para aprovar medidas populares, o governo não necessitaria negociar com nenhum Judas. A pressão popular se encarregaria de garantir a governabilidade. Quem precisa de um Judas para se garantir é por que não está fazendo coisa boa!
Governar com Judas?