Luciana Genro: Psol não teve alianças no RS por falta de parceiros
Apesar da vitória de Tarso Genro (PT) no primeiro turno para o governo do Rio Grande do Sul, o resultado apontado nas urnas não foi comemorado por completo pela família do governador eleito. A deputada federal Luciana Genro (Psol), filha de Tarso, tentava a reeleição para o terceiro mandato na Câmara Federal. Mas, mesmo sendo a nona candidata mais votada, com 129.501 votos, foi derrubada pelo coeficiente eleitoral. Com isso, 23 concorrentes com votação inferior a ela têm mandato garantido em Brasília a partir de janeiro.
Com a derrota, Luciana retornará a Porto Alegre, onde dará início a outra batalha para conseguir disputar um mandato eletivo em 2012, quando pretende concorrer a uma cadeira na Câmara de Vereadores da capital. Pela legislação, com Tarso governador, Luciana fica inelegível por quatro anos, uma vez que é vedada a eleição de parentes até o segundo grau. Em 2014, caso ela já detivesse um mandato, poderia tentar a reeleição, ou então concorrer a cargos fora da jurisdição. A filha do governador eleito está trabalhando com um especialista em direito eleitoral para ajudá-la a voltar à vida pública o mais rápido possível.
Luciana Genro foi duas vezes deputada estadual e mais duas deputada federal. Em 2003, ficou conhecida nacionalmente por integrar o grupo de deputados petistas, junto com a senadora Heloísa Helena, que se recusou a votar a favor da reforma da previdência e foi expulso do partido. No ano seguinte, ajudou a fundar o Psol. O desempenho do partido como um todo no Rio Grande do Sul, onde concorreu sem alianças, foi fraco nestas eleições. O candidato ao governo Pedro Ruas ficou em quinto lugar na disputa, por exemplo.
Em entrevista concedida ao Terra, Luciana avaliou que uma aliança partidária teria ajudado o desempenho do Psol nas urnas e disse que quer lutar para se manter ativa na vida pública.
Terra – A senhora considerava a possibilidade de derrota nestas eleições?
Luciana Genro – Nós sabíamos que o coeficiente eleitoral era muito alto. Então, sabíamos que era difícil, mas avaliamos que era possível. Faltaram cerca de 15 mil votos. E uma série de fatores pesou: o fato de a Heloísa Helena não ter sido candidata (à presidência), o desempenho do nosso candidato ao governo, a fraca votação dos outros candidatos a deputado.
Terra – Uma aliança teria ajudado?
Luciana Genro – Teria. Se tivesse havido uma aliança, tudo seria somado. O nosso problema em relação à aliança é que tentamos fazer uma coligação para apoiar a Marina (Silva, do PV) nacionalmente, mas isso foi inviabilizado pela aliança do PV com o DEM e o PSDB no Rio de Janeiro. Deixamos de fechar uma coligação não por falta de vontade, mas por falta de parceiros. Não fazemos alianças só para ter o voto da legenda. Não nos aliaríamos a pessoas como Paulo Maluf (PP), Fernando Collor (PTB) e Renan Calheiros (PMDB), como é o caso do PT, por exemplo.
Terra – A senhora acredita que deveria ser alterada a lei que a deixa inelegível por ser filha do governador eleito e estar sem mandato?
Luciana Genro – Se a lei valer para mim, estou com os direitos políticos cassados. O espírito da lei é evitar as oligarquias familiares. Mas eu tenho 16 anos de militância, sou de um partido diferente daquele do meu pai e que, inclusive, faz oposição ao PT.
Terra – Quais são seus planos agora?
Luciana Genro – Pretendo me candidatar a vereadora em Porto Alegre em 2012. Contatei um dos maiores especialistas em direito eleitoral, o Antônio Augusto Mayer dos Santos, que está construindo esta defesa. Vamos fazer toda uma movimentação para que, no momento em que eu me inscrever, o Ministério Público não recorra. Minha intenção é nos próximos dois anos criar um ambiente jurídico que me favoreça, no sentido de que haja uma compreensão da minha situação. Vou fazer também um movimento político pelo direito de concorrer. E pretendo, antes do final deste ano, realizar um ato público em Porto Alegre, onde fui a segunda candidata mais votada, para construir esta defesa e dar uma satisfação a meus eleitores.
Terra – Qual será seu argumento?
Luciana Genro – Pela letra fria da lei em 2014 eu só poderia ser candidata à reeleição ou à presidência da República. Eu poderia alegar que a reeleição não é só consecutiva. Mas não quero esperar até 2014. A questão da reeleição seria uma alegação jurídica. Avaliamos que poderíamos entrar com pedido de esclarecimento, mas depois consideramos que o melhor é fazer esta movimentação jurídica e política e depois sim entrar com uma ação. O que talvez aconteça só no momento da minha inscrição. Faço o pedido de registro da candidatura e, no caso de ele ser negado, se instala a batalha jurídica.
Terra – O Psol no Rio Grande do Sul perdeu sua representante no Congresso, não elegeu deputado para a Assembleia Legislativa e teve um desempenho abaixo das expectativas na disputa ao Piratini. O partido precisa repensar suas posições?
Luciana Genro – Temos dois vereadores na Câmara Municipal de Porto Alegre. Acredito também que, com a votação que eu obtive, continuo a ter uma representatividade e pretendo seguir atuando com os movimentos sociais. A Câmara Municipal é uma esfera de poder. Vamos continuar.
Terra – Em quem a senhora vai votar para presidente da República no segundo turno?
Luciana Genro – Não sei se vou abrir o voto. Posso anular ou votar na Dilma (Rousseff, do PT). O Psol vai tomar uma posição nacional: apoio crítico à Dilma, voto nulo ou liberação. Eu particularmente não tenho a intenção de abrir meu voto e muito pouca vontade de votar na Dilma, embora, claro, no José Serra (PSDB) eu não vote de jeito nenhum.
Terra – A senhora pode votar nulo?
Luciana Genro – O problema é que tanto a Dilma como o Serra representam uma vitória do capital financeiro e o Psol precisa ter independência frente ao governo para continuar levando as demandas do povo. Nenhum dos dois tem a capacidade do presidente Lula de cooptação dos movimentos sociais e de freio em relação às demandas sociais. Lula levou as lideranças do movimento sindical para o seu lado, inclusive colocando-as no governo. Também acho que este Brasil de prosperidade tem fôlego curto. A crise internacional não acabou; a saúde é uma catástrofe; o déficit habitacional é imenso. Há um conjunto de demandas reprimidas pela força do Lula que tende a voltar com mais força no próximo governo.