A operação Satiagraha se manteve firme diante da tentativa de desmoralização levada adiante pelo esquema de poder de Daniel Dantas. Este foi o principal resultado do depoimento do Delegado Protógenes Queiroz na CPI dos Grampos. O depoimento não foi a bomba jogada contra as instituições corruptas desta democracia dos ricos, como se poderia imaginar depois de algumas declarações prévias do Delegado, mas impediu de modo firme a desmoralização da operação Satiagraha e do próprio Protógenes Queiroz, como pretendia o Presidente da CPI dos Grampos, deputado Marcelo Itagiba.
Antes da CPI se conhecia boatos de que Protógenes receberia ordem de prisão durante seu depoimento. Pelo sim, pelo não, era prudente tomar medidas contra esta possível provocação. Ainda mais conhecendo a folha corrida do presidente da Comissão, suas ligações com Álvaro Lins, político cassado do RJ, e sua atividade febril para desmoralizar a operação que levou a condenação do banqueiro bandido Daniel Dantas. Parlamentares do PSOL foram à tribuna alertar à nação para este perigo. Junto com os parlamentares do PSOL, senadores de outros partidos como Pedro Simon, Inácio Arruda, Eduardo Suplicy entraram em campo e repudiaram as tentativas de transformar o investigador em investigado e sobretudo em réu.
Foram iniciativas importantes capazes de intimidar a tropa reacionária. Antes disso soubemos que o Delegado iria entrar com um pedido de hábeas corpus, garantia constitucional contra qualquer prisão e que lhe dava o direito de não responder determinadas perguntas. Estava claro que Protógenes não iria para um tudo ou nada. Não sentia forças para um enfrentamento total. O sigilo das investigações não havia sido quebrado por ele até agora. Não poderia fazer isso na CPI sem sofrer conseqüências graves. Sua demissão dos quadros da Polícia Federal com certeza poderia ser uma delas. Estava claro também que o povo, se a decisão fosse enfrentar todas as perguntas, apoiaria ativamente ao Delegado. O apoio que tem recebido nas ruas mostra isso. Sua referência já é de massas e uma parte ainda minoritária, mas significativa do povo deu sinais de eleger o Delegado como liderança de suas demandas democráticas. Antes do depoimento que estava marcado para o dia 01 de abril , porém, já estava claro que a decisão de Protógenes não era o confronto aberto no terreno da CPI, um terreno claramente dominado pelo inimigo, embora com audiência nacional. Uma audiência tentadora para tentar desarrumar a casa do lado de lá.
Já estava claro também que a tropa de choque de Dantas não iria cutucar a onça com vara curta. Não revelariam as informações sigilosas que provavelmente eles tiveram acesso. O adiamento do Depoimento da CPI decidido por Itagiba confirmava esta tática. Nenhum deputado iria ler trechos da operação Satiagraha que permitissem Protógenes contextualizar informações e fragmentos apresentados por deputados.
A sessão confirmou nossas suspeitas. Em geral Protógenes declarava que infelizmente não poderia responder devido ao fato de não poder quebrar o segredo de justiça da operação Satiagraha. Se o fizesse, certamente os advogados de Daniel Dantas entrariam com medidas visando anulação de processo ou de provas. Politicamente, é evidente que a decisão de Protógenes poderia ter sido a de dar nomes aos bois como havia declarados dias antes. Não deu. Confirmou, é certo, que há um ministro do governo Lula, o Senhor Mangabeira Unger, que trabalhou como agente direto do banqueiro bandido Daniel Dantas. Confirmou que este cidadão foi parte ativa de um plano criminoso contra os interesses nacionais, arquitetado nos EUA, cujo objetivo claro era de avançar na apropriação de riquezas nacionais, especialmente na área de comunicações. Colaborador também das políticas de Dantas que se apropriou de partes importantes do subsolo de estados brasileiros como a Bahia. Isso não é pouco coisa. Mangabeira, ministro de Lula, foi homem de confiança de Dantas. Foi não, é. A mídia não deu a cobertura para as denúncias, preferindo destacar o silêncio do Delegado. Mas o que ele falou não divulgaram! E o ministro continua lá. Não foi demitido.
Para que este político entreguista esteja no governo, ainda mais depois de ter acusado diretamente o presidente Lula de ladrão, em 2005, é porque há força material, política e econômica por trás dele. E Dantas tem muita força mesmo. Por isso não esta preso, embora já tenha sido condenado a dez anos de prisão. Protógenes reafirmou também sua convicção de que o advogado Luis Eduardo Greenhalgh deveria ter sido preso de acordo com as investigações da Satiagraha. Greenhalgh é da Direção Nacional do PT. Protegido do PT. Faltou oportunidade para que Protógenes pudesse falar sobre suas graves denúncias contra FHC e o PSDB, aquelas divulgadas na revista Caros Amigos.
Os podres secretos do capital e seus destacados políticos do governo e da oposição de direita não foram ainda revelados . Desta vez o segredo de justiça falou mais alto. O povo ainda não tem entrado em cena para transmitir a força necessária para que delegados honestos e corajosos assumam de peito aberto a defesa da verdade, mesmo que acima dos ritos e trâmites legais. A verdade, mesmo que quebrando as leis. Ainda são apenas os poderosos ricos, capitalistas e corruptos que dão de ombros às leis e fazem o que bem entendem, protegidos, impunes. Por isso quem estava na CPI tratado como suspeito era o Delegado que mais atuou para prender inúmero dos maiores corruptos da história recente do país. Enquanto isso, a corrupção corre solta.
O plano da tropa de Daniel Dantas era quebrar Protógenes. A grande mídia, como sempre, com maior ou menor intensidade, levou adiante a manipulação. Este era o plano deles. Não levaram.
O desafio, portanto, segue sendo o mesmo: manter firme as bandeiras. Não desistir. Não recuar. Confiar no futuro. Convocar os homens e as mulheres de bem a se juntar na empreitada. Manter aberta as portas de nosso partido a todos os que queiram combater a corrupção dos capitalistas e seus políticos. Dizer a Protógenes que estamos lado a lado nesta marcha. E que venceremos.
Roberto Robaina, presidente do PSOL/RS