O grupo de indígenas Kaingang que foi vítima de violência policial e racismo durante uma abordagem policial realizada em Canela denunciou o caso na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. O episódio, que ocorreu quando as famílias comercializam objetos ao lado da Catedral de Pedra, foi relatado à deputada estadual Luciana Genro (PSOL), que imediatamente oficiou a prefeitura da cidade solicitando esclarecimentos sobre o ocorrido, que resultou na ruptura do tendão do cotovelo do indígena Silvério Ribeiro.
“Todos sabem que sou conhecida como defensora da Brigada Militar, dos direitos dos brigadianos dentro da corporação, das suas carreiras, mas nós não podemos compactuar com a violência exagerada e com o racismo. É um absurdo que os indígenas tenham sido chamados de insetos pelos brigadianos. Isso não é pouca coisa. É uma violência psicológica e racista brutal”, pontuou Luciana Genro.
“É muito triste o que aconteceu comigo, toda essa situação e humilhação na cidade onde eu trabalho, né? É onde eu tiro o sustento dos meus filhos e dos mais velhos que me acompanham também. Então, eu vim aqui pedir para vocês que são as autoridades pra ter uma posição firme contra tudo isso e pra dar um apoio para nós”, desabafou Silvério durante seu depoimento aos presentes na sessão. Os indígenas atingidos pela ação vivem na comunidade Pón Nónh Móg, em Farroupilha, e viajam até Canela para comercializar seus produtos.
Reforçando o pedido feito por Silvério, o cacique Alexsander Ribeiro pediu aos deputados que atuassem não somente na mediação com o Poder Municipal, mas também com as forças de seguranças sobre a necessidade da comercialização de objetos, sejam esses artesanais ou não, na cidade pelo seu povo para que se consiga garantir a subsistência das mais de 50 famílias que moram na aldeia.
“Nós já tivemos dezenas de reuniões com a Prefeitura, inclusive com a presença do Ministério Público e de outros órgãos, mas é claro que não existe o desejo de tirar o nosso projeto do papel. Nós já debatemos locais, horários e formas que podemos fazer o nosso comércio, mas não há nenhuma decisão sobre o tema por parte do prefeito. Nós apenas queremos garantir a dignidade do nosso povo! Queremos trabalhar e queremos respeito”, afirmou o cacique.
“Essa é uma reivindicação justa dos indígenas que querem ser tratados com dignidade e respeito. Para isso precisam de um local adequado para comercializar seus produtos. Me parece ser o mínimo que se pode fazer por eles, já que eles não possuem terra onde possam plantar alimentos ou realizar a extração de matéria-prima para o seu artesanato”, declarou Luciana Genro durante o encontro.
Justamente devido à dificuldade de acesso à matéria-prima, muitas famílias também comercializam outros tipos de produtos além do artesanato, o que teria motivado a fiscalização e a apreensão das mercadorias. “Essa não é uma escolha dos Kaingang. O ideal seria vender apenas o artesanato, mas é necessário sobreviver, e essas famílias vivem do comércio”, explicou Moisés da Silva, representante da FUNAI.
Além da violência, os indígenas relataram dificuldades estruturais enfrentadas pela comunidade. Composta por 50 famílias, a aldeia ocupa uma área de cerca de 700 m² em Farroupilha, sem espaço para agricultura. Em Canela, os Kaingang têm direito a apenas sete barracas no entorno da Catedral de Pedra para a venda de artesanato.
Através da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, será realizada uma audiência pública na cidade para tratar sobre o tema. A data ainda será definida, mas o encontro contará com a presença de Luciana Genro.A oitiva dos indígenas foi realizada a pedido do presidente da Comissão, deputado Adão Pretto Filho (PT).