Meninas e coordenadora do time foram ouvidas pela Comissão.
Meninas e coordenadora do time foram ouvidas pela Comissão.

| mulheres

Por solicitação da deputada Luciana Genro (PSOL), a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa ouviu os depoimentos da coordenadora e das jogadoras do time feminino de futsal Sub-13 do Esporte Clube Pelotas, conhecidas como Princesas do Sul. Na final do campeonato Sub-13, elas foram alvo de ofensas misóginas por parte da torcida. A Comissão irá oficiar a empresa de arbitragem, a Guarda Municipal e a Polícia Civil sobre o ocorrido.

A coordenadora do time, Gabriela Salvador, relatou que as meninas disputaram todas as etapas do campeonato junto aos times dos meninos, por serem a única equipe feminina e não haver uma competição específica para elas. Elas passaram por todas as etapas e chegaram à final.

“Elas chegaram na final por capacidade, por saber jogar. Não foi a primeira disputa delas contra meninos. Aos 4 minutos de jogo, pessoas começaram a ofendê-las com falas como ‘vagabundinha, teu lugar não é na quadra’, ‘vai pra casa lavar a louça’, ‘lugar de menina não é jogando futebol'”, relatou Gabriela. Os torcedores também passaram a atirar água na quadra, fazendo as jogadoras escorregarem.

Segundo Gabriela, o árbitro mandou paralisar o jogo, momento em que ela então abraçou as meninas e pediu que não prestassem atenção nos insultos. O árbitro queria chamar a Brigada Militar e interromper o jogo, mas a Comissão de Arbitragem e a Coordenação da Liga não permitiram a interrupção da partida, dizendo que as ofensas “são do jogo”.

A jovem Virginia Salvador da Silva, de 12 anos, também deu seu depoimento. Ela conta ter crescido dentro das quadras e ter ficado muito abalada com o ocorrido. “Era um marco histórico na minha vida o jogo. Infelizmente, no meio do jogo ouvi a torcida adversária nos xingando e foi um choque. Todas ficamos abaladas e com medo de alguém fazer algo contra nós”, disse.

Lei Vini Jr. não foi aplicada

A Lei Vini Jr., de autoria da deputada Luciana Genro, prevê a interrupção da partida e até mesmo a sua interrupção em casos de ofensas racistas, machistas ou LGBTfóbicas. Neste caso, a legislação poderia ter sido aplicada e houve a intenção do árbitro em interromper a partida, mas o jogo seguiu.

“A Lei Vini Jr. dá ao árbitro o poder e o dever de paralisar e até cancelar o jogo em caso de agressões desse tipo. Aparentemente o árbitro tentou cancelar a partida, mas alguém acima dele mandou seguir o jogo”, apontou Luciana Genro. A arbitragem foi feita por uma empresa, chamada Brissani, que será oficiada pela Comissão acerca do ocorrido. A Guarda Municipal, que estava no local e não tomou nenhuma atitude, também será oficiada.

O time fez um boletim de ocorrência e a Comissão também irá acompanhar a apuração por parte da Polícia Civil. “Estas pessoas precisam ser severamente repreendidas. Quero dizer para as meninas que não desistam do futsal. A nossa força é o que tem mudado a realidade do machismo, e vocês já estão fazendo isso”, afirmou a deputada.