Por proposição da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), a Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia Legislativa realizou, nesta quinta-feira (28), uma audiência pública para debater a privatização da Trensurb. Atualmente a empresa é pública e controlada pela União, com participações minoritárias do estado do Rio Grande do Sul e do município de Porto Alegre.
O governo federal já anunciou a intenção de privatizar a companhia ainda este ano, cenário que segundo Luciana Genro, pode ser barrado com a mobilização dos trabalhadores e usuários do sistema, que serão os principais prejudicados caso a empresa passe a atender os interesses privados, que sempre visam o lucro acima da necessidade das pessoas.
“Essa audiência demonstrou o potencial de mobilização que temos nessa luta contra a privatização. Inúmeros sindicatos e movimentos estão dispostos a unir forças nessa batalha e é possível alcançar essa vitória. Tenho convicção de que podemos derrotar Bolsonaro e seu governo privatista na eleição e conquistar uma correlação de forças muito mais favorável para manter a mobilização por serviços públicos de qualidade,” afirmou a deputada.
Luciana Genro sugeriu, como encaminhamento da audiência, que seja elaborado um documento, a ser assinado pelas organizações presentes, solicitando uma agenda com o governador Ranolfo Vieira Junior, que, segundo ela, “está se fingindo de morto, como se não tivesse nada a ver com isso e precisa trazer o posicionamento do estado sobre questão”.
Luís Henrique Chagas, do Sindicato dos Metroviários (Sindimetro), foi um dos articuladores da audiência junto à deputada. Trouxe exemplos de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde o transporte metroviário foi privatizado, sucateado e resultou em diversas demissões.
“Eu gostaria de poder estar discutindo aqui a tarifa zero, mas temos um governo federal que retira direitos dos trabalhadores, dia após dia, e por isso temos que estar aqui lutando contra a privatização desse serviço. Sem trem a região metropolitana para! Nossa primeira tarefa é manter a mobilização, tirar Bolsonaro, a turma do Leite e toda a turma da privatização. O Sindimetro sozinho não consegue, mas vamos andar lado a lado nessa luta e seremos vencedores,” afirmou Chagas.
Representando a Câmara de Municipal de Porto Alegre, o ex-deputado estadual Pedro Ruas (PSOL) recordou a luta do partido em defesa dos serviços e funcionalismo público e que ao menos sete municípios serão duramente impactados caso se dê a privatização deste transporte.
“Nós somos radicalmente contra qualquer ideia, projeto ou proposta de privatização da Trensurb. O que vem por aí é um ataque ao serviço público como um todo! Existe uma tragédia social embutida nessa proposta de privatização, pois quem mais vai ser penalizado ainda não percebeu onde isso pode chegar. A partir de agora não tem nenhum dia de trégua: é mostrar o quanto nos opomos a tudo isso”, pontuou o vereador.
Na cidade para outra atividade, a deputada estadual de São Paulo, Mônica Seixas (PSOL) relatou a situação do transporte metroviário em seu estado, no qual parte das linhas são privatizadas e a população entendeu, logo em seguida da privatização, a necessidade de um transporte público. “Com a privatização a tarifa sobe, o transporte precariza, não se faz mais concurso, a população fica à mercê e depois o lucro se sobrepõe ao serviço,” destacou a parlamentar.
Neste sentido, representando o Sindicato Metroviários de São Paulo, Altino de Melo acrescentou que esse é um problema nacional e a privatização da Trensurb faz parte de um projeto de privatização de todo o sistema metroviário de transporte de pessoas do país. “É também uma luta em defesa do patrimônio público para que os pobres não fiquem mais pobres do que já estão. Caso a privatização se concretize, vai aumentar a passagem e piorar o serviço e quem ganha são os grandes empresários,” afirmou.
Sandro Lima, secretário de Mobilidade Urbana de São Leopoldo, se manifestou contrário à privatização e disse que há dificuldades de ter informações sobre esse processo e lamentou a ausência de representantes da Trensurb e dos governos federal e estadual na audiência. Ainda mostrou preocupação com a possibilidade de o valor da tarifa chegar a R$10, valor apontando por representante da empresa em um grupo de trabalho criado pela na Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) para tratar do assunto. Encerrou dizendo que a Trensurb é fundamental para a organização da mobilidade urbana na Região Metropolitana da Capital.
Trabalhadores organizados contra a privatização
Daniela Maidana, em nome da executiva estadual da CSP Conlutas, disse acreditar que a privatização resulta na queda da renda média dos trabalhadores, aumento das demissões e um transporte ainda mais superlotado e com uma tarifa maior. Pela Intersindical, Márcia Tavares pontuou a importância deste modelo de transporte no deslocamento, em segurança, de milhares de trabalhadores e estudantes da região metropolitana.
Amarildo Cenci, presidente da CUT, afirmou que temos o desafio de ter uma bandeira da ampliação do serviço público e da mobilidade urbana e da unificação dos trabalhadores na defesa e viabilização disso. Representando a executiva estadual da CTB, Eder Pereira da Silva, lembrou que países que valorizam o que é estratégico para o crescimento investem no serviço público e reforçou a defesa da entidade pela soberania nacional, uma vez que a privatização vai na contramão do desenvolvimento nacional.
Chico Vicente, metroviário aposentado, recordou que esse é um processo de mobilização que foi iniciado há muito tempo, já que se cogitou a privação da Trensurb ainda em 1993, posteriormente em 98 e assim por diante.
Usuários e sociedade geral juntos nessa luta
A luta pelo transporte público de qualidade é de toda a população, usuária do serviço. Conforme Chagas, do Sindimetro, nunca houve um problema grave com os usuários, sendo que pesquisas tanto da Trensurb quanto do Sindimetrô demonstram que o serviço tem mais de 90% de aprovação de quem usa o trem para se locomover pela região metropolitana. As reclamações constantes giram em torno do preço da tarifa e infraestrutura das estações.
Os estudantes, grande percentual dos usuários do metrô, se fizeram presentes através da representação do Patrick Veiga, do DCE da UFRGS e do Coletivo Juntos. O jovem ressaltou o papel do transporte coletivo na assistência estudantil e política de permanência dos estudantes. Patrick ainda denunciou o corte do meio passe, implantado pelo governo Melo e como a privatização pode influenciar, em função dos custos, na evasão.
Julio Jessien, do Sindisaúde, declarou apoio aos metroviários e destacou que o fundamental é continuar na defesa do serviço público, em especial o que chama de quatro pilares para a sobrevivência do povo brasileiro: segurança, educação, saúde e transporte coletivo.
Morador de Esteio e usuário diário do serviço do Trensurb, Arlindo Ritter falou em nome da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição e declarou apoio na luta contra a privatização do serviço.
Ricardo Souza, pela Associação dos Servidores da UFRGS, destacou que essa luta é fundamental para todos os trabalhadores, pois privatizar a Trensurb é retirar da população não só o direito ao transporte público, mas o direito à cidade.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Charqueadas, Luizão, parabenizou a iniciativa, que diz respeito a toda sociedade rio-grandense. Declarou a solidariedade e apoio da entidade para mudar o quadro nefasto que se apresenta para a sociedade com tantas propostas de privatização.
Para Alexandre Nunes, do Sindicato dos Correios, esse ano traz a tarefa de que o assunto das privatizações seja reforçado de forma estratégica, fomentando o debate sobre os impactos que o serviço privado traz para a população.
Usuário do metrô e portador de deficiência física, João Aimoré falou sobre a acessibilidade do serviço e a preocupação de que com a privatização o serviço se torne inacessível, principalmente para quem é de baixa renda e já sofre com o corte do passe para deficientes praticado tanto pelo governo Melo, quanto pelo governo Jairo Jorge.
Por fim, o camelô Jorge Leal, que trabalha no camelódromo localizado na Estação Canoas, relatou que há tempos não se vê investimento nas estações, em um claro intuito de sucatear o serviço. Externou, ainda, a preocupação das famílias que dependem do comércio nas estações para sobreviver, já que com a privatização certamente não terão como se manter no espaço e afirmou que o grupo é parceiro nessa luta.