SAÍDA NEGOCIADA
Sarney e Planalto já estudam renúncia
Cada vez mais distante do peemedebista, Lula disse que não votou nele
Consciente de que a situação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), está cada vez mais difícil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende ter uma conversa com ele na segunda-feira. O Planalto nega o encontro.
Sarney está deprimido com as denúncias que atingem sua família e disse ao presidente, por telefone, que a saída política para pôr fim à guerra no Senado pode ser a renúncia.
– Eu estou vivendo um calvário, um inferno astral – afirmou o presidente do Senado a dois interlocutores que estiveram com ele nos últimos dias.
Lula não deseja a saída do aliado, mas avaliará com ele a conveniência de sua continuidade à frente do cargo. O presidente não planeja, por exemplo, pedir a Sarney que resista à pressão custe o que custar. Na avaliação de Lula, só ele pode saber se tem condições de suportar o bombardeio dos adversários.
Se Sarney disser ao presidente que vai renunciar, o Planalto começará a articular com ele uma alternativa para sua substituição. Nos bastidores, petistas trabalham com um plano B: o senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Ex-ministro do Trabalho do governo Sarney, Dornelles foi um dos que convenceram o presidente do Senado a ceder à cobrança do PSDB e do DEM e instalar a CPI da Petrobras, antes do recesso parlamentar, na tentativa de esfriar a crise.
Nem essa estratégia, porém, deu certo, e a crise se agravou durante as férias. Foi por esse motivo que Lula mudou de discurso em relação a Sarney. Ainda na semana passada, o presidente foi aconselhado por assessores a adotar tom mais cauteloso quando se referisse ao aliado. Ontem, o presidente deu mostras da mudança de postura. Questionado sobre Sarney, Lula foi direto e pela primeira vez admitiu abertamente a possibilidade do peemedebista deixar o cargo.
– Não é problema meu. Não votei no Sarney para presidente do Senado nem votei para ele ser senador no Maranhão – disse, num lapso, já que Sarney é senador pelo Amapá.
O que o Conselho de Ética julgará
O QUE SÃO:
– Representações – Iniciativa de partido político. Em caso de punição, a pena só pode ser perda de mandato, seja temporária ou definitiva
– Denúncias – Pode ser apresentada por qualquer parlamentar. A punição vai desde advertência verbal até a perda do mandato.
REPRESENTAÇÕES
1ª – Autor: PSOL
– O que pede – A apuração de todos os atos secretos baixados nos últimos 14 anos, que teriam beneficiado familiares e apoiadores dos senadores. A representação também cita o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL)
2ª, 3ª e 4ª – Autor: PSDB
– O que pede – A apuração de 18 atos secretos que beneficiam parentes ou o próprio Sarney. Entre eles, o caso de José Adriano Cordeiro Sarney, neto do presidente da Casa que operava crédito consignado no Senado. Há também o caso do desvio de recursos da Petrobras pela Fundação José Sarney
5ª – Autor: PSOL
– O que pede – Apuração da denúncia de que Sarney teria ocultado em sua declaração de bens uma casa no valor de R$ 4 milhões, em uma área nobre de Brasília
DENÚNCIAS
Autor – Arthur Virgílio (PSDB-AM), cinco denúncias, pedindo apuração sobre:
– Os atos secretos e o envolvimento do presidente José Sarney
– O caso do neto do presidente, José Adriano Cordeiro Sarney, que era sócio da Sacris e intermediava empréstimos consignados
– O desvio de R$ 500 mil, para empresas fantasmas ou ligadas aos Sarney, de verba da Petrobras ligada à Fundação Sarney
– As interceptações feitas pela Polícia Federal que ligam Sarney a atos secretos e a nomeação do namorado da neta
– Propriedades que teriam sido vendidas sem pagamento de impostos
Autor – Cristovam Buarque (PDT-DF), pedindo:
– Apuração sobre agentes da PF que teriam passado informações sigilosas ao filho de Sarney