Manifestação termina com seis detidos
Sindicalistas e estudantes protestaram em frente à casa de Yeda e foram repreendidos com força pela Brigada Militar
Uma manifestação em frente à casa da governadora Yeda Crusius, na manhã desta quinta-feira, terminou em confusão e com seis detidos por desacato à autoridade e tentativa de invasão.
Por volta das 7h da manhã, aproximadamente 200 pessoas, a maioria professores, sindicalistas e estudantes, iniciaram um ato em frente à residência da governadora, na rua Araruama, bairro Vila Jardim, em Porto Alegre.
Eles colocaram um contêiner na calçada, representando as “escolas de lata” utilizadas provisoriamente pela Secretaria de Educação, gritaram palavras de ordem pedindo o impeachment de Yeda e teriam interditado a garagem do imóvel.
A governadora reagiu ao protesto e discutiu com os manifestantes. Em resposta aos ataques, a tucana apresentou um cartaz escrito a mão: “Vocês não são professores. Torturam crianças. Abram alas que minhas crianças têm aula” – em referência aos dois netos, que moram com ela.
A Brigada Militar foi acionada e policiais do Batalhão de Operações Especiais foram até o local. Segundo os organizadores da manifestação, os agentes agiram com truculência e realizaram as seis detenções quando o ato já tinha terminado – entre os presos estava a presidente do Cpers/Sindicato, Rejane de Oliveira, e a vereadora de Porto Alegre Fernanda Melchionna (P-Sol), além de um fotógrafo do sindicato.
Rejane, que prestou depoimento e assinou um termo circunstanciado, foi liberada por volta das 12h30min, assim como os demais ativistas. Ela classificou a ação da Brigada Militar de arbitrária e desnecessária.
“Primeiro, a polícia nos retirou da calçada em frente à casa da governadora. Depois, quando estávamos no meio da rua, isolaram o quarteirão em que se localiza a casa de Yeda. Quando já estávamos na fila do ônibus, prontos para deixar o local, a polícia foi até o veículo para me prender”, relatou.
Neste momento, o enfrentamento teria se intensificado porque os demais professores protestaram contra a prisão de Rejane. “Fui algemada e arrastada. Não havia necessidade disso. Era um ato pacífico”, afirmou a presidente, ao explicar que o local foi escolhido porque simboliza uma das acusações contra o governo Yeda – a de que a casa teria sido adquirida com dinheiro de caixa-2 da campanha de 2006.
A Brigada Militar informou que agiu para manter a ordem e o direito de ir e vir dos moradores da região, e negou que tenha ocorrido uso indevido de violência.
Após o ato em frente à casa de Yeda, os manifestantes continuaram o protesto em frente ao Palácio Piratini, na Praça da Matriz. Ao final, eles soltaram mil balões pretos em sinal de luto pela situação do governo gaúcho.
À tarde, a última sessão plenária da Assembleia Legislativa antes do recesso foi marcada pela repercussão do protesto. “Perguntei ao tenente qual foi o motivo da prisão da dirigente sindical, da vereadora e de um jornalista. Ele disse que as pessoas estavam resistindo e atacando a autoridade. Pergunte aos jornalistas se houve algum ataque. Ao contrário, foram atacados por uma tropa de choque que primeiro bate e depois pergunta”, reagiu o deputado Raul Pont (PT). O deputado Pedro Pereira (PSDB) rebateu, criticando o Cpers, que “tira crianças da aula para ofender a governadora. Não são educadores, são baderneiros”, concluiu.
Governadora se diz indignada
À tarde, a governadora Yeda Crusius concedeu entrevista coletiva sobre os fatos ocorridos em frente à sua residência. Ela disse estar indignada e considerou o ato um “crime contra a minha família”. “Meus netos foram proibidos de ir à escola e fazer suas últimas provas. Foi uma atitude selvagem e criminosa”, relatou. Yeda garantiu estar tranquila, pois teve o voto popular para comandar o Rio Grande do Sul e condenou o que chamou de ação hostil contra a vida privada de um governante. “Ninguém pode confundir a governadora com a intimidação dentro da sua casa e de sua família”, observou. Segundo ela, sua gestão trouxe benefícios e o Estado está entregando os frutos do ajuste das contas públicas. “Foi uma demonstração inadequada e covarde em nome de falsas demandas corporativas”, concluiu.
Justiça Federal nega bloqueio de bens de Yeda Crusius
A juíza da 3ª Vara Federal de Santa Maria, Simone Barbisan Fortes, responsável pelo processo da Operação Rodin, negou o pedido de bloqueio e indisponibilidade de bens da governadora Yeda Crusius, do seu ex-marido, Carlos Crusius, e do ex-secretário-geral de Governo Delson Martini. A decisão foi tomada na quarta-feira e divulgada nesta quinta pela Justiça Federal do Rio Grande do Sul. A solicitação havia sido feita no início do mês pelo P-Sol, através da deputada federal Luciana Genro e do vereador Pedro Ruas. De acordo com o parecer da juíza, o pedido não foi atendido porque “as pessoas referidas não figuram como rés na ação penal, não há investigação criminal pendente sobre elas, vinculadas à 3ª Vara Federal de Santa Maria, e não figuram como requerentes o MPF ou a autoridade policial”. O documento destaca ainda que “entre as pessoas referidas, consta a governadora do Estado, que somente poderia estar sujeita à jurisdição do Superior Tribunal de Justiça”.
Procuradores questionam Secretaria da Transparência;
Luçardo afirma que atribuições são diferentes da PGE
A presidente da Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul (Apergs), Fabiana da Cunha Barth, entregou nesta quinta-feira ao Ministério Público (MP) uma representação que contesta a atuação da Secretaria Estadual da Transparência e da Probidade Administrativa. Ela explica que a objeção é referente ao termo “articulação de controle”, que daria à secretaria poder de decisão sobre improbidade administrativa. Para ela, a tarefa é de exclusividade da Procuradoria-Geral do Estado (PGE). “A sobreposição dos poderes é inconstitucional”, observou.
A subprocuradora-geral de Justiça para Assuntos Jurídicos do MP, Ana Maria Schinestsck, recebeu o texto. Se o pedido da Apergs for concedido, o MP deve entrar com Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), referente às atribuições da pasta. Do contrário, o pedido será arquivado. Não há prazo fixado para a representação ser respondida.
O secretário da Transparência e da Proibidade Administrativa, Francisco Luçardo, descarta a possibilidade de a medida ameaçar a sobrevivência da pasta. Para ele, as atribuição da PGE e da secretaria são diferentes.
OPINIÃO
Denúncias do P-Sol acendem velhos ideais
Alexandre Costa, jornalista
As denúncias sobre irregularidades no governo de Yeda Crusius feitas pelo P-Sol levaram o partido a ocupar um novo status no cenário nebuloso em que se transformou a política do Rio Grande do Sul. Como a corrupção vem degenerando gradativamente a vida política no Brasil, a cada dia a sociedade perde suas referências em relação a valores elementares como a honestidade. Nesse sentido, o P-Sol tem o mérito de ser um partido novo, mas que carrega em si velhos ideais. Um deles é o socialismo. Existem outros tantos, como ética, dignidade e moral. O crescimento do P-Sol atende aos anseios de parte da esquerda gaúcha órfã de opções, principalmente após a chamada crise do PT, originada em decorrência do “mensalão” e “valerioduto”, em nível nacional; ou do clube da cidadania no Estado. Existe um vácuo político produzido em função das consecutivas derrotas do PT nas últimas eleições em Porto Alegre e pelo fato de o Fórum Social Mundial (FSM) ter deixado a cidade que já foi tida como a meca das esquerdas, a terra do OP e até mesmo a capital mundial da democracia.
As denúncias feitas pelo P-Sol, em 19 de fevereiro de 2009, foram praticamente comprovadas em reportagem publicada por jornal aqui do Estado, no dia seis de julho, a partir do vazamento de documentos do Ministério Público Federal (MPF). O resultado das denúncias feitas pelo P-Sol chama-se esperança. Não aquela que venceu o medo e depois se mostrou repleta de ilusões e contradições. Representa a esperança no sentido de que existe gente honesta fazendo política e com objetivo de utilizá-la como um meio para transformar a sociedade. O que se observa é que as denúncias até podem ser apenas uma gota neste oceano de corrupção que alagou o Brasil, mas têm um significado gigantesco para quem acredita nos velhos ideais.
ADÃO OLIVEIRA
Prisões
Pelo menos seis pessoas foram detidas durante a manifestação realizada na manhã de ontem, em frente à casa da governadora Yeda Crusius em Porto Alegre. Entre os detidos está a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira. Também foram detidos a vereadora do P-Sol Fernanda Melchionna, uma professora, um professor, um servidor público e um fotógrafo do Cpers. A causa das detenções não foi confirmada pela Brigada Militar (BM), mas estava relacionada a “atitudes agressivas”, conforme o coronel João Carlos Trindade.
Defesa
A presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, disse que a resposta da Brigada Militar à manifestação em frente à casa da governadora Yeda Crusius, em Porto Alegre, foi truculenta. Para a dirigente, “a Brigada estava com disposição de agredir os manifestantes. Nos tiraram da calçada, depois da rua, e fomos para outra rua. Eles empurraram, trataram muito mal. Aí um policial me algemou, me colocou dentro de um camburão e fui levada à 14ª DP”, contou Rejane.