*Artigo publicado no site Sul21 pela deputada estadual Luciana Genro e pela coordenadora da Emancipa Mulher, Carla Zanella.
Por Luciana Genro e Carla Zanella
Marielle Franco foi assassinada em 2018. Tereza de Benguela liderou o quilombo de Quariterê, em Mato Grosso, e foi atacada pelos bandeirantes no século 18. A trajetória de inúmeras mulheres negras como Dandara, Carolina de Jesus, Esperança Garcia, Tia Ciata, Lélia Gonzalez, Luíza Mahin, entre outras, ilustram a luta das mulheres negras ao longo da história, relembradas neste 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
A data existe desde 1992, quando ocorreu o 1º Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, organizado para combater o machismo e o racismo na sociedade. O dia foi reconhecido pela ONU, que aponta que 15 dos 25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo estão na América Latina. O Brasil, infelizmente, lidera esse ranking, com o maior número de mulheres mortas entre os países da América Latina.
Além disso, as mulheres negras são as maiores vítimas da violência no Brasil, representando quase 70% do total de assassinadas, segundo o Atlas da Violência, sendo também as principais vítimas de violência obstétrica, abuso sexual e homicídio.
As mulheres negras que ocupam espaços de poder, como foi o caso de Marielle Franco, vereadora pelo PSOL no Rio de Janeiro, moradora da favela, mãe, lésbica e negra, são uma realidade que desmonta a lógica da política, historicamente ocupada por homens, brancos e ricos. Mesmo com Marielle assassinada, a luta das mulheres negras segue representada pelo ativismo, pelo trabalho diário e pela mobilização de diferentes mulheres em suas comunidades, no dia a dia e no movimento social. Além do trabalho das parlamentares do PSOL das bancadas em Brasília, São Paulo, RJ, entre outros.
São elas as representantes da luta de milhares de mulheres que há centenas de anos defendem melhores condições de trabalho, e estão atuando contra o racismo e a pobreza, a misoginia e a intolerância religiosa. Elas também fazem da política a defesa e a ferramenta de transformação social dos que estão à margem e que sofrem diariamente com os efeitos das desigualdades sociais e de raça no país.
Neste 25 de julho é preciso seguir em marcha pelo fortalecimento da luta das mulheres negras, um desafio que é de todas nós. Por isso, junto com a Joanna Burigo, criamos e coordenamos a Emancipa Mulher, uma escola feminista e antirracista que proporciona formação política para mulheres e luta por um feminismo que reflita as necessidades das mulheres negras, incentiva a presença das mulheres negras na política, e contribui para o crescimento de suas organizações e por mobilizações que obriguem o poder público a atender as demandas historicamente negadas e privadas das mulheres pobres em geral e especialmente das negras.