PSol pede que Assembleia vote processo contra Yeda
Pedido de impeachment foi arquivado. Recurso do PSol aguarda parecer na CCJ
Os líderes do PSol pediram ontem ao presidente da Assembleia Legislativa, Ivar Pavan (PT), que o parlamento dê prosseguimento ao processo de impeachment da governadora Yeda Crusius. O presidente do PSol, Roberto Robaina, a deputada federal Luciana Genro e o vereador Pedro Ruas repetiram ao presidente da Assembleia as denúncias apresentadas à sociedade na semana passada. Eles acreditam que as revelações sobre o suposto envolvimento de integrantes do governo são fortes o suficiente para determinar o impeachment. Eles querem também que a matéria seja votada imediatamente.
Pavan disse que o processo terá tramitação normal. Ele não descartou, como consequencia, a possibilidade de que o pedido seja analisado pelo plenário, ‘independente da posição da Comissão de Constituição e Justiça’, onde está parado desde junho de 2008, aguardando parecer do deputado Paulo Odone (PPS), que preside a comissão.
Ontem, a bancada do PT protocolou também representação no Ministério Público Federal. O partido pede que a instituição considere as provas compartilhadas entre os processos e as investigações das Operações Rodin e Solidária na análise e nos encaminhamentos da representação do PT de 14 de julho de 2008. Nela, os petistas apontam indícios de suposta participação de servidores do governo e da própria governadora na fraude do Detran.
Partidos divergem sobre denúncias
As denúncias do PSol e a crise que envolve o governo Yeda Crusius voltaram a ser tema de debate no plenário da Assembleia Legislativa ontem. Na volta do feriadão de Carnaval, não faltaram farpas tanto do lado dos partidos do governo, quanto de oposição. O deputado Raul Carrion (PC do B) foi à tribuna pedir mais informações sobre a morte de Marcelo Cavalcante. ‘A queima de arquivo para proteger pessoas envolvidas no processo de fraudes deve ser apurada’, atacou.
Carrion foi seguido do líder da bancada do PT, Elvino Bohn Gass, que conclamou todas bancadas a tomarem medidas para apurar as denúncias feitas pelo PSol. Sua sugestão está na pauta da reunião do Colégio de Líderes da próxima terça-feira. Do lado do governo, Adilson Troca (PSDB) afirmou que é favorável a que todas denúncias sejam investigadas. ‘Mas elas não podem ser feitas injustamente’, disse. Alexandre Postal (PMDB) foi mais incisivo e disse que a apuração das denúncias pode chegar a uma grande mentira e ‘à destruição do partido denunciante’.
Irmão de Cavalcante depõe hoje
O irmão do ex-representante do Rio Grande do Sul em Brasília, Marcelo Cavalcante, prestará depoimento hoje à tarde na 10ª Delegacia de Polícia de Brasília. Marcos Cavalcante já declarou, assim como outros membros da família, não acreditar na hipótese de suicídio do irmão, apontada como a mais provável pela Polícia. Marcelo foi encontrado morto no dia 17 de fevereiro, às margens do lago Paranoá.
Durante depoimento prestado na última sexta-feira, a viúva de Marcelo, a empresária Magda Koenigkan, relatou ter recebido, no final de semana anterior à morte, quatro mensagens de texto de celular. D acordo com ela, o conteúdo era mesmo em tom de despedida.
Magda, que prestou depoimento espontaneamente, relatou ter brigado com Marcelo na sexta-feira à noite. Ela afirmou ter dormido na casa do irmão depois do episódio. A empresária deve depor novamente nos próximos dias, para novos esclarecimentos, dessa vez sob intimação.
A Polícia teve acesso também às imagens das câmeras de segurança da ponte Juscelino Kubitschek. Segundo análise feita até ontem pelos investigadores, que não deram por concluído o exame, nada de suspeito foi percebido. O prazo de 30 dias para a conclusão do inquérito, no entanto, deve ser ampliado.
Marcelo aparece em uma das interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal nas investigações da Operação Rodin. Ele foi afastado do cargo pela governadora Yeda Crusius em junho passado, no auge da crise do Detran gaúcho.
TALINE OPPITZ
Fim do feriado e da trégua
Como esperado, com o fim do feriado de Carnaval, adversários do governo Yeda Crusius interromperam a trégua e voltaram com todo o gás ao caso envolvendo as denúncias do PSol contra a administração tucana. A estratégia é evidente. Não deixar o episódio cair no esquecimento e tentar sangrar e ampliar o desgaste político do governo até que haja manifestação do Ministério Público Federal, o que não deverá ocorrer a curto prazo – já que, se existirem, investigações estão sob segredo de Justiça. O tema marcou o dia na Assembleia. Além de reunião do PSol com o presidente da Casa, Ivar Pavan, onde foram repetidas as acusações e solicitado que a Casa dê prosseguimento ao processo de impeachment da governadora, em tramitação desde o ano passado, parlamentares de partidos da oposição articularam ida ao Ministério Público Federal na tentativa de obter provas relativas às denúncias. Por ora, o Piratini manteve a tática do silêncio, mas incumbiu o líder do governo, Pedro Westphalen, a bancada do PSDB e líderes aliados a se manifestarem sobre o episódio caso a artilharia se torne pesada demais.
Cautela
Se depender do presidente da Assembleia, Ivar Pavan, pedidos do PSol e do PT para que a Casa interfira junto ao MPF não emplacarão. Cauteloso, Pavan reforçou sua opinião: ‘A Assembleia já cumpriu seu papel ao realizar a CPI do Detran e ao encaminhar suas conclusões ao MPF. Por enquanto, temos uma denúncia sem confirmação. Cabe ao MPF concluir o inquérito e dar publicidade à investigação. Não há necessidade de interferir neste momento’.
Apartes
As circunstâncias da morte do ex-representante da embaixada gaúcha em Brasília Marcelo Cavalcante marcaram manifestações no plenário da Assembleia.