PF investigará suposto crime eleitoral em 2006
Suspeitas do PSOL motivaram abertura de inquérito federal
Doze dias depois das denúncias do PSOL, o superintendente da Polícia Federal (PF), Ildo Gasparetto, determinou ontem abertura de inquérito para investigar se houve irregularidades na campanha eleitoral da então candidata Yeda Crusius em 2006. A decisão foi anunciada assim que chegou às mãos de Gasparetto um ofício do procurador regional eleitoral, Vitor Hugo Gomes da Cunha.
Na sexta-feira, o procurador havia anunciado que pretendia pedir aos federais uma apuração sobre as provas que a legenda diz existirem sobre arrecadação de caixa 2 na campanha tucana.
Em matéria eleitoral, a PF atua por meio de flagrante ou atende a requisições do Ministério Público e da Justiça. Gasparetto conversou sobre o assunto com Vitor Hugo na tarde de segunda-feira e, assim que o ofício chegou à sede da corporação – por volta das 11h30min de ontem –, determinou a abertura de investigação.
No ofício, o procurador pediu que o órgão entre em contato com os denunciantes para saber se existem provas. Se a resposta for positiva, o material deve ser requisitado para perícia e, em caso de autenticidade, o passo seguinte será a apuração de responsabilidades.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, Gasparetto estabeleceu um prazo para o encerramento do inquérito:
– Esperamos que tudo possa ser esclarecido nos próximos 30 dias.
No último dia 19, a deputada federal Luciana Genro, o vereador Pedro Ruas e o presidente estadual do PSOL, Roberto Robaina, apresentaram à imprensa nove episódios que integrariam uma lista de 28 denúncias feitas pelo empresário e lobista Lair Ferst em um processo de delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF). Conforme os integrantes do PSOL, Lair gravou os episódios em áudio e vídeo. É a existência desse material que o Ministério Público Eleitoral quer verificar. Segundo Gasparetto, as denúncias do partido trazem fatos novos dos quais a PF não tinha conhecimento.
Gasparetto apura ligação entre denúncias do PSOL e a Rodin
– Esses fatos serão investigados caso haja comprovação de que essas denúncias estão no processo da Operação Rodin. Se houver, vamos solicitar à Justiça Federal de Santa Maria para que possamos continuar as investigações – disse o superintendente antes de viajar para Brasília, onde acompanhará investigações sobre a morte do ex-representante do Estado na Capital Federal Marcelo Cavalcante.
Embora o procurador Adriano Raldi tenha negado conhecer as gravações, os federais também devem requisitar ao MPF outros documentos e possíveis provas.
– Nós nem sabemos se esse material existe – afirmou o delegado.
Segundo o superintendente, parte do que foi declarado pelos dirigentes do PSOL já é alvo de uma investigação sobre supostos crimes eleitorais aberta em 2008 – após o término da CPI do Detran – a pedido do MP Eleitoral.
ROSANE DE OLIVEIRA
Hora de acabar com as dúvidas
O prazo de 30 dias prometido pelo superintendente da Polícia Federal, Ildo Gasparetto, para apurar se as denúncias feitas pelo PSOL têm ou não fundamento acende a esperança de que se possa, finalmente, jogar luzes sobre o limbo das acusações sem provas que semearam desconfiança dentro e fora do território gaúcho. A Polícia Federal tem instrumentos para comprovar se os líderes do PSOL estão falando a verdade ou se embarcaram numa alucinação sem ter visto os vídeos que comprovariam a veracidade das denúncias.
Mesmo envolvendo pessoas com foro privilegiado, a PF não precisa de autorização de tribunais superiores para ouvir Luciana Genro e Pedro Ruas. A investigação foi pedida pelo procurador regional eleitoral, Vitor Hugo Gomes da Cunha, que se antecipou a uma solicitação formal da bancada do PT.
A Polícia Federal, que já acompanha a investigação da morte de Marcelo Cavalcante, agora entra na apuração das denúncias que envolvem a governadora Yeda Crusius, integrantes e ex-integrantes de seu governo. Dependendo do que a PF descobrir, ou o PSOL se consagra, ou se desmoraliza diante dos eleitores que levam a política a sério e exigem provas de acusações.
Em Brasília, a deputada Luciana Genro reafirmou no plenário da Câmara o que dissera na entrevista coletiva há 12 dias. Ameaçada de processo na Comissão de Ética pelo tucano José Aníbal, Luciana amplificou as denúncias e desafiou os acusados a reagirem com medidas judiciais.
Na Assembleia gaúcha, não prosperou a sugestão do PT de o Legislativo requisitar ao Ministério Público Federal as provas que o PSOL diz existirem. Os aliados do Piratini não quiseram servir de escada para o PT e o PSOL e rejeitaram a proposta na reunião do colégio de líderes. Os petistas vão continuar insistindo, com o argumento de que fiscalizar é uma das tarefas prioritárias do Legislativo.
Aliás
Como gostam de barulho, os líderes do PSOL ficaram desapontados com a falta de reação dos principais acusados.
Destino do veto
O quadro que há duas semanas era favorável para a manutenção na Assembleia do veto da governadora ao projeto que anistia servidores grevistas ontem era de interrogação.
A insatisfação dos deputados aliados com o tratamento recebido do governo, somado ao medo de comprar briga com os servidores públicos, torna mais complicada a manutenção do veto.
Um aliado de primeira hora chegou a advertir que, se o governo não fizer “um gesto político forte”, corre o risco de ser derrotado.
Falta de sensibilidade
O esquecimento – ou opção – do Palácio Piratini em avisar os deputados sobre o anúncio da pavimentação de 17 acessos asfálticos no Interior deixou parlamentares aliados irritados com o governo.
– Como vou dizer que eu ajudei a trazer a obra se nem sabia que seria anunciada? – questionou um parlamentar chateado, mas que pediu para não ser identificado.
Os principais focos de insatisfação estão no PMDB, no PP e no PTB.
Como o deputado Álvaro Boessio, segundo suplente do PMDB, avisou que votará pela derrubada do veto ao projeto do magistério, o governo planeja devolver à Assembleia os secretários Márcio Biolchi e Marco Alba no dia da votação.
Vem aí
No núcleo estratégico do governo, a compra de um avião não é assunto encerrado.
A comissão que elabora um relatório de custos e benefícios deve concluir o trabalho no primeiro semestre. A ideia é só retomar a questão em público quando houver respaldo técnico que aponte a necessidade.
Incompleta
O Ministério Público Federal frustrou o ex-secretário da Fazenda Aod Cunha, que esperava receber ontem um atestado cabal de que não há qualquer investigação envolvendo seu nome.
A certidão fornecida ao advogado Gabriel Magadan atesta que não há procedimento administrativo, judicial ou criminal envolvendo Aod na subseção de Porto Alegre. Magadan pediu um documento que englobe todo o Estado.
O procurador Antônio Carlos Welter justificou que o sistema não é integrado e prometeu uma consulta completa.
Mal-estar
Causou desconforto entre os PMs que trabalham no serviço de inteligência do Palácio Piratini a informação de um secretário de Estado de que eles teriam descoberto um encontro do vereador Pedro Ruas com o vice-governador Paulo Feijó na véspera das denúncias do PSOL.
Feijó desmentiu a informação, alegando que, nesse dia, estava em Punta del Este, mas 10 entre 10 tucanos têm convicção de que o vice está por trás das denúncias do PSOL.