“Mulheres, resistência e luta” foi o tema do encontro final do segundo ano do curso Laudelina de Campos Melo, promovido pela Emancipa Mulher, a escola de formação feminista e antirracista fundada pela deputada estadual eleita Luciana Genro. O evento aconteceu no sábado (1º/12), na Assembleia Legislativa. Luciana foi uma das painelistas do evento, acompanhada da psicóloga Letícia Eli Pereira e da militante Natasha Ferreira, mulher transexual e ativista dos Direitos Humanos e LGBT. Joanna Burigo e Carlinha Zanella, coordenadoras da Emancipa Mulher, mediaram o debate.
A resistência das mulheres em diferentes frentes e períodos foi destacada por todas as participantes, além de abordarem o papel emancipatório da educação. Luciana Genro destacou os livros “Mulheres, raça e classe”, de Angela Davis, e “O Feminismo é para todos”, de Bell Hooks, para falar sobre os diferentes tipos de feminismo percebidos ao longo da história:
– O feminismo da classe média branca pedia o direito ao voto e ao trabalho, mas as mulheres negras já trabalhavam. É importante atentarmos para quais direitos estamos lutando, em qual realidade está inserida cada mulher. A política acabou me levando para o feminismo, mas, na época em que eu era militante, o feminismo não dialogava com as pautas da política que me interessavam naquele período.
A psicóloga Letícia Eli Pereira relembrou que muitas mulheres negras não estavam na linha de frente contra a ditadura, por exemplo, porque isso significava uma estratégia de resistência
— Era uma estratégia para se proteger, para sobreviver. Porque as mulheres negras são sempre expostas como um exemplo muito forte, de estar sempre na linha de frente para resistir – explicou a psicóloga, que defende um feminismo que inclua os homens para que a sociedade para de reproduzir uma sistemática de violência que atinge principalmente a população negra.
Já Natasha Ferreira trouxe a perspectiva do histórico da resistência da população trans para o debate.
— Não há um marco para começarmos essa discussão. Temos relatos de travestis e transexuais sendo mortas e invisibilizadas pela polícia durante a ditadura. Depois, a epidemia da AIDS. Até hoje quando se fala a palavra travesti muitas pessoas relacionam com prostituição. A expectativa de vida de uma trans é de 35 anos. Mas, esse dado é para trans brancas. O IBGE se recusou duas vezes a fazer o levantamento com a população negra e hoje estima-se que mais de 80% das mortes de transexuais seja de trans negras – ilustrou Natasha.
Formação de multiplicadoras
Luciana destacou ainda que as iniciativas feministas devem estar mais ao lado dos movimentos sociais, seguindo uma linha defendida por Angela Davis de que o feminismo não anda separado das lutas por mais igualdade de classe social e de raça. A deputada estadual eleita citou dois projetos da ONG Emancipa, de educação popular, fundada por ela em 2011, e que exemplificam a aplicabilidade de iniciativas de acordo com a necessidade de cada comunidade. Um deles é a Casa Emancipa Restinga, que oferece oficinas de música, dança e esportes na Restinga, e o outro é o cursinho pré-vestibular do Emancipa que terá aulas no bairro Santa Rosa de Lima a partir de 2019. As duas iniciativas, aliás, são lideradas por duas mulheres: Cris Machado na Restinga e Fátima Cardoso no Santa Rosa.
— Na Restinga nós começamos com o cursinho, chegamos a ter aprovados no vestibular, mas a evasão era muito grande. Trocamos para aulas de danças para mulheres, e as turmas lotaram. Agora temos oficinas de música e de muay thai, que dialogam mais com a realidade da comunidade – explicou Luciana, relembrando que a comunidade também sediou a 1ª Parada LGBTinga, em julho.
Além disso, Luciana relembrou os eventos do “Feminismo em debate”, promovidos no interior do RS em 2018, e convidou as alunas da Emancipa Mulher a participarem de um curso de formação para se tornarem multiplicadoras desse debate em mais cidades do Estado e também em Porto Alegre. Luciana também fez um convite a todas as mulheres que queiram contribuir com o seu mandato de deputada estadual, pensando em projetos e iniciativas coletivas que poderão ser construídas a partir de 2019.
— As mulheres são parte de um espaço de luta dentro de um contexto. Precisamos estar com as mulheres eleitas, nos colocando como parte do processo democrático – destacou Joanna Burigo.