O VI Congresso do nosso partido começa amanhã. Tenho defendido que o partido apresente candidatura própria à presidência da República. O Congresso seria o melhor momento para tal definição. Por isso inclusive coloquei meu nome à disposição, para que não ficasse a ideia de que defendo um nome, mas não me apresento.
Apresentei meu nome porque cumpri esta tarefa em 2014 e creio que o partido se fortaleceu. Mas o PSOL é um partido dividido. As mesmas forças que apoiaram Randolfe em 2014 defendem outra política. Representam, no interior do PSOL, uma linha que não rompeu com a estratégia do PT dos anos 90. A mesma estratégia que conduziu, ao fim e ao cabo, na falência do PT – o que repercute de uma forma ou outra em toda a esquerda. Esta corrente defende o programa “democrático e popular” elaborado pelo PT e se opõe à Lava Jato, com alguns dos seus dirigentes chegando a dizer que a operação é uma manobra do imperialismo.
Assim o PSOL, ao invés de se apresentar como alternativa ao PT, ainda está sem lutar para dizer seu nome. Diante da divisão, o caminho de uma candidatura presidencial, para ser concretizado, parece ter que passar por uma nova luta interna. Isso não é bom para o PSOL. O melhor seria o partido adotar um nome de consenso. Por isso defendi Chico Alencar antes e apontei o nome de Freixo. Mas Freixo não quis assumir esta tarefa, escolhendo ser candidato a deputado, e Chico acabou desistindo depois de manifestar interesse.
Mais ainda: precisamos unir forças para garantir que o PSOL seja um partido democrático capaz de estar conectado com as lutas sociais. Antes de junho de 2013 muitos setores organizados na direção do partido já diziam que a mobilização de massas era algo inviável no momento histórico do Brasil. Junho de 2013 sacudiu o país e também o partido, enfraquecendo os setores conservadores. Minha candidatura de 2014 buscou refletir as Jornadas de Junho. Mas agora novamente as jornadas ficaram para trás. Não que seus efeitos tenham deixado de existir, mas outras forças atuaram, reagiram e mudaram relações de forças.
Se num partido revolucionário sempre há pressões conservadoras, no caso do PSOL – que não é, ou ainda não é revolucionário – as pressões conservadoras são maiores. Diante do enfraquecimento geral da esquerda provocado pelo PT, setores partidários da direção querem ficar colados justamente no… PT! E isso na eleição presidencial mais aberta desde 89, onde todos devem se apresentar.
Neste momento a esquerda do partido deve se unir para lutar por um PSOL que não tenha medo de dizer seu nome. Um partido que não seja uma mera legenda eleitoral, que aposte na organização e na mobilização popular e não se adapte a este regime político apodrecido.
Esta unidade não deve se dar na questão tática da escolha simplesmente de um nome para a disputa presidencial. Deve se dar em primeiro lugar pela via do debate programático. Por isso prefiro agora apoiar o nome de Plininho. Plinio se dispôs me apoiar, mas nos avisou que teria que discutir com grupos que apoiavam seu nome este movimento. Nesta conversa, às portas do Congresso, tanto eu quanto o MES – a corrente onde atuo no PSOL – lhe deixamos claro que o apoiaríamos no Congresso se ele não quisesse desistir. O autorizamos a explicitar este apoio e ainda que lhe dissemos que somente no Congresso iríamos formalizá-lo. Outras correntes, sabendo destas conversas já fizeram o mesmo movimento. Tal gesto tem o objetivo de unir as forças daqueles que compreendem que o PSOL deve superar o programa e a estratégia petista. Por isso é mais do que discutir nomes. É uma questão de programa.
Neste marco, no Congresso do PSOL, apoiarei o nome de Plinio para ser nosso candidato a presidente. Creio que ele tem ótimas condições de unir forças para levar adiante este debate e politizar nossa atividade. Se o Congresso não definir a candidatura presidencial, como parece ser uma possibilidade, vamos defender mecanismos democráticos de consulta. Neste sentido, a hipótese Boulos, que é um nome que está sendo aventado para se apresentar, deve também ser submetida à base do PSOL. O nome de Boulos tem um aspecto programático fundamental, que é justamente a ligação com a mobilização de massas. Não é à toa que o MTST cresceu muito no calor de junho de 2013 e depois. Neste ponto, portanto, está na oposição ao núcleo dirigente do PT. É mais ligado inclusive às forças de esquerda do PSOL. Mas a influência da ideologia petista no seu pensamento é por demais evidente, como tem deixado claro sua relação de alianças com Lula. Por isso a hipótese de seu nome deve ser discutida pela militância, ser submetida ao debate e não às negociações de cúpula.
Concluo dizendo que temos um partido que tem tudo para crescer, mas que deve se afirmar como alternativa, apresentando seus nomes e internamente debatendo as razões da falência do PT, tratando de extrair lições para não repetir como farsa o que o PT fez como tragédia.
Luciana Genro