O Emancipa, ONG de educação popular, lança o Emancipa Mulher: Escola de Emancipação Feminista e Resistência Antirracista. A proposta é oferecer aulas, oficinas e atividades gratuitas que promovam o empoderamento feminino e racial para mulheres. O primeiro curso, chamado “Laudelina Melo”*, começa em abril e tem duração de oito meses. As inscrições serão abertas do dia 3 ao dia 20 de abril. A aula inaugural ocorrerá no dia 29 de abril, sábado, às 14h.
O Emancipa, fundado por um grupo de professores e professoras encabeçado por Luciana Genro, já trabalha há 6 anos com jovens da periferia, oferecendo cursos preparatórios para o vestibular e Enem. Mais de 500 estudantes já ingressaram na universidade com a ajuda do Emancipa, que nos últimos 3 anos foi coordenado pelo professor Rodrigo Nickel. Agora Luciana volta ao Emancipa e, junto com ela, três mulheres da luta feminista se incorporam na equipe para implantar a Escola de Emancipação Feminista e Resistência Antirracista: Winnie Bueno, Joanna Burigo e Mariana Riscali.
Gênero e desigualdade racial são desafios persistentes, e no Brasil é impossível discutir um sem abordar o outro. A violência sexual é uma constante, a violação de direitos fundamentais é cada dia mais inquietante, e o trabalho não remunerado/doméstico se traduz em maior ônus para mulheres e meninas. Mulheres negras são desproporcionalmente afetadas por questões como estas.
A iniciativa busca não apenas ampliar o acesso ao conhecimento formal sobre questões de gênero, raça e classe, mas também enriquecer os processos pedagógicos sobre estes temas com as experiências das participantes. A cooperação e a construção coletiva de estratégias de resistência e emancipação norteiam a produção do conteúdo.
Através de diálogo e com muita participação das cursistas, o programa inclui aulas e atividades práticas sobre movimentos de mulheres e negros, ondas feministas, trabalho da perspectiva de raça, classe e gênero, representatividade e representações, controle de corpos, masculinidades, saúde sexual, dentre outras temáticas pertinentes. Além disso, serão oferecidas oficinas que estimularão as cursistas a se expressar, bem como que as habilitarão a aprimorar técnicas de pesquisa e articulação para além do período passado em classe.
O Brasil é o quinto país com maior número de feminicídios no mundo. Entre 2003 e 2013 os casos de homicídios de mulheres brancas no país caíram 9,8%, enquanto homicídios de mulheres negras aumentaram em 54%. Gênero, raça e classe são questões estruturantes da sociedade e não existem apenas como complementos uma da outra. O diálogo que pretendemos construir na Escola de Emancipação Feminista e Resistência Antirracista vai revelar o quão naturalizadas essas estruturas estão e pretende articular saídas justas e inclusivas.
*Cada módulo do nosso curso terá o nome de uma mulher negra lutadora e combativa. Escolhemos homenagear a Laudelina de Campos Melo, ativista pelos direitos das empregadas domésticas e fundadora do sindicato da categoria.