O PSOL de Porto Alegre realizou neste domingo (24/07) sua convenção partidária, que oficializou o nome de Luciana Genro como pré-candidata à prefeitura da cidade. O evento ocorreu no auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa, e contou com a presença do dirigente Roberto Robaina, do deputado Pedro Ruas, do presidente nacional do partido, Luiz Araújo, do jornalista Glenn Greenwald, do filósofo Vladimir Safatle, do porta-voz municipal da Rede Sustentabilidade, Daniel Pereira, do dirigente nacional do PPL, Márcio Cabreira, do representante do PSTU, Júlio Flores, da jornalista Kátia Suman, do militante LGBT David Miranda e da militante do movimento negro, Kassiele Nascimento.
O auditório Dante Barone ficou lotado de militantes, apoiadores e simpatizantes da pré-candidatura de Luciana Genro. Ao todo, mais de mil pessoas passaram pelo local, que foi coberto de faixas e cartazes em referência a pautas importantes para a esquerda, como a os direitos das mulheres, dos negros e dos LGBTs, além da luta por moradia digna e por democracia real.
Todos os integrantes da mesa tiveram a possibilidade de discursar no evento, que foi comandado por Roberto Robaina. O jornalista Glenn Greenwald contou como conheceu Luciana, durante as eleições presidenciais de 2014. “Não estou acostumado a falar bem de políticos, mas a Luciana é uma grande exceção”, disse. Ele ainda comentou que, caso o PSOL vença em Porto Alegre, vai considerar se mudar para a cidade junto com seu marido, David Miranda. “Qualquer cidade que tenha uma prefeita como a Luciana será uma cidade ótima”, elogiou.
Com uma fala que empolgou o auditório, o presidente do PSOL gaúcho, Israel Dutra, disse que a eleição em Porto Alegre, com Luciana Genro à frente nas pesquisas, “é a chance de inaugurar um novo ciclo na história de lutas do Brasil e de romper com o desencanto”. Já o presidente nacional do partido, Luiz Araújo, frisou que “cada candidatura do PSOL é um instrumento de luta do povo para impedir a retirada de direitos implementada por este governo ilegítimo”, referindo-se ao presidente interino Michel Temer (PMDB). Ele ressaltou ainda que Porto Alegre é uma das prioridades do partido em nível nacional. “A energia que estou sentindo aqui mostra que estamos no caminho certo. Essa é a vez do PSOL, de Luciana e do povo começar a mudar o Brasil pelas cidades”, concluiu.
A jornalista Kátia Suman lamentou que Porto Alegre não seja mais uma cidade segura e aprazível, como era na época da sua adolescência. “A cidade está virada num abandono”, criticou. Ela disse apoiar Luciana Genro porque enxerga a necessidade de uma mudança real para Porto Alegre. “Não sou vinculada a nenhum partido, não pretendo aceitar cargo nenhum. Apoio a Luciana especialmente porque dizem que ela é radical. Nós precisamos de uma radicalidade, chega desta mistureba”, exaltou.
O dirigente do PPL, Márcio Cabreira, elogiou a parceria oficializada com o PSOL em Porto Alegre. “Construímos esta aliança na luta cotidiana contra o aumento da passagem de ônibus. Nos sentimos muito à vontade entre os companheiros do PSOL, pois sabemos o compromisso que a Luciana tem com a cidade”, manifestou.
Já o dirigente da Rede, Daniel Pereira, disse enxergar em Luciana a possibilidade real “de mudanças profundas para a cidade”. O partido vai definir no dia 4 de agosto se apoiará o PSOL na disputa, mas Daniel, que é o porta-voz da Rede em Porto Alegre, fez questão de deixar seu apoio à Luciana. “Estamos com muita disposição de te ajudar a vencer essa eleição e fazer de Porto Alegre uma cidade igualitária e justa”, concluiu.
Júlio Flores, do PSTU, defendeu a construção de uma frente socialista de trabalhadores na cidade e parabenizou Luciana Genro pela liderança nas pesquisas eleitorais. “Abre-se todo um espaço para respondermos neste momento histórico com um programa que responda às necessidades básicas de trabalho, direitos e moradia”, considerou.
O filósofo e professor da USP, Vladimir Safatle, veio a Porto Alegre especialmente para demonstrar seu apoio à Luciana Genro na convenção do PSOL. “Porto Alegre não é uma cidade qualquer, sempre foi a ponta de lança da história brasileira”, destacou. Militante do PSOL, Safatle disse que as eleições municipais deste ano aparecem como uma possibilidade “daqueles que estão realmente engajados em um processo de transformação social mostrarem do que são capazes”, defendendo as cidades enquanto “o lugar onde as pessoas vivem e sonham, não um espaço de implosão do capital”.
Militante do movimento negro e da juventude, Kassiele Nascimento reforçou que Porto Alegre é a cidade mais racialmente segregada do país, conforme levantamento do jornal Nexo. “Pobre e preto ficam na periferia, enquanto quem tem mais dinheiro fica no centro”, observou. Já o militante LGBT David Miranda, que é pré-candidato a vereador no Rio de Janeiro, lembrou que se aproximou do PSOL durante as jornadas de junho. “Era a juventude na rua querendo mudar tudo”, comentou.
“Somos movidos pela ideia de que os nossos sonhos podem governar”, diz Luciana
O deputado estadual Pedro Ruas teve a missão de encaminhar a fala de Luciana Genro, a última a ser feita durante a convenção do PSOL de Porto Alegre. O parlamentar comentou que “nos 11 anos de PSOL, nunca tivemos um momento tão importante e não sei se voltaremos a ter”, em referência à possibilidade concreta de vitória na disputa pela prefeitura.
Antes de iniciar seu pronunciamento, Luciana foi aclamada por unanimidade pela convenção como a candidata do PSOL à prefeitura de Porto Alegre. Emocionada, ela fez uma retrospectiva de sua trajetória política, recordando sua expulsão do PT, em dezembro de 2003, seguida pela criação do PSOL, em 2004, “mostrando que a esquerda não iria afundar junto com o PT”.
A ex-deputada desceu do palco do Dante Barone e foi até a plateia para falar sobre o programa de governo que defenderá nestas eleições – construído com a ajuda da população através da plataforma Compartilhe a Mudança e ainda em permanente ampliação, colhendo contribuições da cidadania. Antes, porém, Luciana fez uma breve pausa para abraçar seu marido, Sérgio Bueno, e sua mãe, Sandra Genro, agradecendo-lhes pelo carinho e pelo apoio ao longo de sua vida política.
“Somos movidos pela ideia de que os nossos sonhos podem governar”, disse, ao falar sobre a construção do programa de governo, com propostas inovadoras para a saúde e a segurança, elaborado após muitas reuniões com trabalhadores das mais diversas áreas do município. “Nos reunimos com os rodoviários, com os fiscais da EPTC, com os guardas municipais, com os estudantes, com ativistas pelo direito à cidade, com mulheres e LGBTs”, comentou Luciana.
Para ela, as eleições em Porto Alegre conferem ao PSOL “uma oportunidade de firmar uma nova esquerda no Brasil, de mostrar que podemos governar de uma forma diferente e nova”.
Ao comentar sobre o cenário da disputa na cidade, Luciana fez questão de ressaltar que o PSOL não deseja firmar uma aliança com partidos envolvidos na operação Lava Jato, como fazem seus adversários ao cobiçarem o PP, a sigla mais citada no esquema de corrupção. “Nós não queremos aliança com o PP, como querem os outros candidatos. Não aceitamos corruptos na nossa aliança”, assegurou.
Dentre as propostas apresentadas, a pré-candidata do PSOL disse que irá priorizar as áreas de saúde e segurança. Para a saúde, a ideia é firmar um convênio da prefeitura com o TelessaúdeRS, um serviço de teleconsultoria desenvolvido pela UFRGS que já existe e reduz em até 70% as filas para consultas com algumas especialidades médicas, além de poder disponibilizar uma linha telefônica municipal para orientação da população sobre questões de saúde. Na área da segurança, Luciana planeja envolver a EPTC em um sistema municipal de segurança urbana e viária, integrando os azuizinhos em um trabalho conjunto com a Guarda Municipal.
Luciana ainda disse que irá cortar 70% dos cargos em comissão (CCs) da prefeitura, evitando a lógica do loteamento partidário das secretarias municipais e valorizando os servidores de carreira. “Vamos acabar com a partidocracia e construir uma democracia real, utilizando tecnologias que possibilitem a participação das pessoas no governo da cidade”, frisou.
Além do discurso de Luciana e das falas dos convidados que compuseram a mesa de abertura da Convenção, também foram exibidos depoimentos em vídeo de apoiadores que não puderam estar presentes, como os deputados do PSOL Marcelo Freixo, Jean Wyllys e Luiza Erundina, o ator e comediante Gregório Duvivier, a cartunista Laerte Coutinho e a arquiteta Raquel Rolnik.
A segunda parte da convenção do PSOL de Porto Alegre vai ocorrer no dia 5 de agosto, às 18h30, na Avenida João Pessoa, 973, quando será definida a coligação e a candidatura a vice, além dos nomes que disputarão a Câmara Municipal.