Por Luciana Genro
Muitas pessoas me perguntando o que penso sobre a decisão da Manuela de não concorrer. Eu também sou mãe, o Fernando já tem 28 anos. Em 1988, quando ele nasceu, eu tinha 17 anos. Não tive licença maternidade, pois ele nasceu em janeiro e eu comecei a trabalhar como professora de inglês em março. Foi um momento muito dolorido para mim, deixá-lo tão pequenino, mesmo que por algumas horas, numa creche. Eu não tive escolha, pois achava que trabalhar era minha obrigação naquele momento em que estava começando a construir uma vida independente dos meus pais, junto com o pai do Fernando, o Roberto Robaina. Por ter vivido isso, compreendo muito bem a decisão da Manuela e vejo que ela foi coerente com a luta das mulheres e com a luta em defesa do direito das crianças.
Vale uma palavra sobre a minha relação com a Manuela. Tivemos e temos muitas diferenças políticas, mas sempre nos relacionamos bem e nos respeitamos muito. Fomos deputadas federais juntas e vivemos esta dura realidade de ser mulher e jovem em Brasília, ela ainda mais jovem que eu. No ano passado convivemos na Assembleia Legislativa, ela como deputada estadual – que eu já fui – e eu como coordenadora da bancada do PSOL. Os projetos de lei que ela apresentou são 100% apoiados pelo Pedro Ruas, nosso representante na Assembleia, e vice-versa. Ruas e Manuela atuam do mesmo lado, em oposição ao governo do PMDB de Sartori.
Manuela sempre buscou representar uma renovação na política. Boa parte do eleitorado dela a vê como esta possibilidade de renovação, por isso sua saída da disputa nos coloca uma grande responsabilidade. Temos o desafio de mostrar a todos os que estão em busca de renovação e de uma política conectada com as necessidades do povo, das mulheres, dos LGBTs, dos negros, enfim, de todos os que vivem as opressões deste sistema político apodrecido, que em Porto Alegre podemos começar a construir esta mudança.
Como já é público, estou aceitando o desafio de disputar a prefeitura de Porto Alegre. E, sinceramente, quero muito ganhar esta disputa. Mas tenho muita consciência do óbvio: ninguém muda nada sozinho. Numa disputa onde enfrentaremos inimigos poderosos e um sistema montado para favorecer as castas políticas que estão no poder e querem manter tudo como está, somente com um grande movimento que agregue a cidadania indignada é possível construir uma alternativa, e Porto Alegre poderá, mais uma vez, estar na frente desta construção. Está latente na cidade esta potência de mudança.
Vamos lutar com a convicção de sempre, de que podemos vencer, e com a humildade dos que sabem que ninguém vence sozinho.