Por #LucianaGenro
A Operação Lava Jato desnudou a realidade de apodrecimento das instituições da República. A revelação da propina recebida por Eduardo Cunha é mais um elemento a compor o cenário, no qual a ligação de parte da cúpula do PT com as empreiteiras corruptas é a parte mais sombria.
O Tribunal de Contas, que deveria fiscalizar, também é atingido, o que não é de surpreender para quem conhece a forma como os Ministros do TCU são escolhidos e o perfil da maioria dos integrantes desta “Corte”. Fernando Collor de Mello e seus carros de luxo parecem debochar de todos nós que fomos às ruas pelo Fora Collor, quando um reles Fiat Elba acabou por ajudar a selar o destino do então Presidente da República.
Renan Calheiros e Eduardo Cunha, os dois presidentes das mais altas casas parlamentares do Brasil, estão sob suspeita e deveriam renunciar imediatamente, em nome da decência. O primeiro já é réu, o segundo está a caminho. Mas o fato é que não há decência nesta República, e a “res” pública, que deveria ser a coisa pública, virou uma res-podre.
Numa tentativa de garantir que só os cúmplices deste modelo sobrevivam, Cunha comandou uma mudança na legislação eleitoral para amordaçar o PSOL e outros partidos que não fazem parte do esquema. Se o Senado aprovar, somente aqueles com 9 deputados poderão estar nos debates eleitorais. Muito conveniente. Sendo assim, ninguém vai dizer o que eles não querem ouvir.
Mas então, qual a saída?
O impeachment de Dilma é a resposta oferecida por setores que, cavalgando no justo sentimento de indignação que toma conta do povo, querem entregar os anéis para não perder os dedos. Oferecem a cabeça de Dilma numa bandeja para na verdade não mudar nada, entregando o poder a Michel Temer ou a Eduardo Cunha, algo já impensável, visto que Cunha também já está balançando. O Fora Cunha tende a ganhar força nos próximos dias, ainda mais depois do patético pronunciamento de sexta-feira à noite.
Que se vayan todos foi a palavra de ordem dos hermanos argentinos há alguns anos e que nos serve bem neste momento. Mas se todos se forem, como fica?
Precisamos mesmo colocar abaixo este regime político e suas instituições. Reconstruir novas formas de representação popular, novas instituições que sejam de fato representativas dos interesses populares e não instrumentos de negociatas, enganação e corrupção. Isso só seria possível através de uma Assembleia Constituinte, popular e democrática, eleita de forma radicalmente diferente destes processos viciados, onde o dinheiro das empreiteiras e dos bancos comanda um verdadeiro show de mentiras e promessas vazias, num simulacro de democracia.
Precisamos de democracia real por que esta é a única forma de fazer com que o povo não pague a conta da crise e que se combata efetivamente a roubalheira institucionalizada. Precisamos de um novo junho de 2013, mas com um programa claro de mudanças estruturais na política e na economia. Precisamos construir este programa e este caminho.