Oposição inicia coleta de assinaturas para CPI
A confirmação da existência de gravações que ligam a governadora Yeda Crusius (PSDB) a um suposto caixa-dois de campanha fez subir a temperatura da crise política no Estado. As denúncias de arrecadação ilegal e de desvio de recursos na campanha tucana ao Palácio Piratini, em 2006, relatadas pela revista Veja desta semana, repercutiram durante todo o final de semana e terão novos desdobramentos nos próximos dias.
Ontem, integrantes da bancada do PT se reuniram na Assembleia Legislativa para articular a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso. A intenção não é nova, mas a reportagem da Veja reforçou os opositores. “A sociedade exige uma ação firme do Parlamento e somente uma CPI poderá responder a este sentimento de impunidade”, afirmou o líder da bancada petista, deputado Elvino Bohn Gass, logo após o encontro.
Os parlamentares decidiram atualizar o texto do requerimento e começar a coleta das 19 assinaturas necessárias ainda hoje. “A solicitação terá três eixos, a Operação Solidária, a relação da Solidária com a Operação Rodin e as denúncias levantadas pelo P-Sol, agregadas às informações da Veja. Não há mais o que esperar e nós não podemos nos omitir”, entende a deputa Stela Farias (PT).
Na sexta-feira, antes da circulação da revista, a bancada, que conta com 10 representantes, contabilizava 14 adesões, entre os deputados do PSB e do PCdoB. Diante dos novos fatos, a estratégia é buscar apoio de outras siglas como o PDT e inclusive de integrantes da base aliada.
A oposição também não descarta o apoio do DEM, partido do vice-governador Paulo Feijó. A bancada é composta por três deputados, e a expectativa da oposição é de que pelo menos um deles participe do movimento.
Para o deputado Raul Pont (PT), já há motivo para um processo de impedimento. “O diretor de uma das empresas fumageiras admitiu ter doado R$ 200 mil para a campanha de Yeda e apresentou até recibo. Como isso não está registrado no Tribunal Regional Eleitoral, configura crime eleitoral. O governador do Maranhão perdeu o mandato por muito menos”, disse Pont, ao comparar o caso de Yeda com o do recém-cassado Jackson Lago (PDT-MA).
Hoje, às 15h, a bancada do PT se reúne com a direção da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Rio Grande do Sul (OAB-RS). Logo após, o presidente da entidade, Claudio Lamachia, vai solicitar a revelação do conteúdo das gravações que estariam sob poder do Ministério Público Federal. Ele acredita que não há motivo para manter o sigilo, pois os nomes dos envolvidos já são de conhecimento público.
Classificando as denúncias de “gravíssimas”, Lamachia disse ontem à noite que “o Estado não pode mais conviver com essa situação, que está expondo toda a sociedade gaúcha. É preciso saber se há ou não essas provas”.
Ainda na tarde de hoje, líderes do P-Sol irão conceder uma entrevista coletiva, às 14h, na sede do partido. Durante o final de semana, entidades também se manifestaram sobre a reportagem da revista Veja. Em nota, o CPERS/Sindicato diz que o governo não reúne mais condições para continuar representando o Estado. O DCE da Ufrgs pediu o impeachment da governadora e a CUT convocou uma assembleia popular para hoje. O ato acontecerá ao meio-dia na Praça da Matriz.
Gravações ligam Yeda a suposto caixa-dois
A revista Veja desta semana relata ter tido acesso a áudios de conversas entre o empresário Lair Ferst, um dos ex-coordenadores da campanha tucana em 2006, e Marcelo Cavalcante, ex-assessor de Yeda. Em 17 de fevereiro, já exonerado do governo Yeda por suspeita de participação na fraude do Detran e lotado como assessor do gabinete do deputado federal Cláudio Diaz (PSDB-RS), Cavalcante foi encontrado morto no Lago Paranoá, em Brasília – a Polícia Civil trabalha com a possibilidade de suicídio.
Segundo a revista, os áudios revelam que Cavalcante teria coletado R$ 200 mil da Alliance One e outros R$ 200 mil da CTA Continental, empresas de fumo, após o segundo turno da eleição ao Palácio Piratini. A indústria de cigarro Alliance One negou à Veja ter feito a doação em caixa-dois e apresentou um comprovante de transferência bancária de R$ 200 mil. A CTA Continental negou qualquer doação.
O dinheiro, em espécie, conforme a revista, foi entregue ao marido da governadora, Carlos Crusius. A viúva de Cavalcante, Magda Koenigkan, afirmou que o dinheiro teria sido usado para comprar a casa em que a tucana vive – negociação que já foi alvo de investigação, arquivada pelo Ministério Público estadual.
Citando os áudios, a revista afirma que despesas do comitê de Yeda foram bancadas pela agência de publicidade DCS, que não apareceu como doadora nem como prestadora de serviço da campanha. A DCS, que hoje presta serviços ao governo, negou irregularidades.
Também há referências a irregularidades supostamente cometidas durante governo. Segundo a revista, Yeda tomou conhecimento de detalhes do esquema de desvio no Detran gaúcho antes que a Polícia Federal deflagrasse, em novembro de 2007, a Operação Rodin, prendendo 13 suspeitos de desviar R$ 44 milhões da autarquia.
As gravações foram feitas por Lair Ferst, acusado de ser um dos líderes do desvio do Detran, e foram entregues ao Ministério Público Federal. Em 2008, a Folha de S.Paulo revelou que ele negociava acordo de delação premiada com a Procuradoria em troca de benefício no processo.
Em fevereiro, dirigentes do P-Sol, liderados pela deputada federal Luciana Genro e pelo vereador de Porto Alegre Pedro Ruas, denunciaram a existência de áudios e vídeos entregues por Lair Ferst aos procuradores federais com supostas irregularidades envolvendo o governo.