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Por Redação #Equipe50

Crédito: Divulgação PSOL

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A candidata do PSOL à Presidência da República, Luciana Genro, realizou uma visita ao Dopinha, em Porto Alegre, no final da manhã deste sábado (23/08). O casarão, localizado no número 600 da Rua Santo Antonio, funcionava como um centro clandestino de tortura durante a ditadura militar e será convertido, por pressão dos movimentos sociais, em um centro cultural para preservar e difundir a memória da resistência ao regime.

No local, Luciana Genro, que estava bastante comovida e visivelmente emocionada, defendeu a revisão da Lei da Anistia, para que a Justiça possa responsabilizar penalmente os agentes civis e militares do Estado que cometeram violações aos direitos humanos durante o regime. “No meu governo, as Forças Armadas terão que pedir desculpas ao povo brasileiro pelo que fizeram durante a ditadura”, declarou.

A candidata disse que, atualmente, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica ainda possuem o entendimento de que não fizeram nada de errado durante a ditadura. Para ela, esse tipo de mentalidade coloca o país sob o risco de viver um novo período de exceção. “Ainda temos, nas Forças Armadas, a cultura de que era legítima a tortura diante da resistência do povo à ditadura”, comentou.

Luciana Genro considera que a punição aos torturadores do regime militar é um gesto de reparação histórica e, também, uma forma de contribuir para que as arbitrariedades praticadas atualmente pela polícia deixem de ser toleradas. “Queremos que cessem, hoje, as torturas e a violência que seguem acontecendo. Por isso, defendemos a desmilitarização da polícia”, disse.

A visita ao Dopinha contou com a presença do candidato do PSOL ao governo do Rio Grande do Sul, Roberto Robaina, de candidatos do partido à Câmara dos Deputados e à Assembleia Legislativa, e de ex-presos políticos que lutam por memória, justiça e verdade, como o músico e ativista Raul Ellwanger.

Luciana Genro é comprometida com a luta de familiares de ex-presos, mortos e desaparecidos políticos desde quando era deputada federal. Em 2010, apresentou o Projeto de Lei 7.430/2010, onde propõe que a Lei da Anistia deixe de proteger agentes públicos civis e militares envolvidos na repressão e na prática de crimes de lesa-humanidade, como a tortura, durante a ditadura militar.

O Dopinha

Muitos pesquisadores dizem que o Dopinha foi, provavelmente, um dos primeiros aparelhos clandestinos de tortura durante a ditadura militar. O local funcionou de 1966 a 1971 e foi responsável, entre outros casos, pela detenção e tortura do sargento Manuel Raimundo Soares, que permaneceu lá durante muitas semanas e foi encontrado morto no Rio Jacuí. Seu assassinato ficou conhecido como “o caso das mãos amarradas”, porque seu corpo foi encontrado assim.

O processo que culminará com a criação de um centro de memória no casarão do Dopinha teve início em 2011, fruto de uma pressão constante dos movimentos sociais, articulados em torno do Comitê Carlos de Ré da Verdade e da Justiça. Naquele ano, o grupo realizou um ato público de identificação do local como um centro clandestino de tortura durante a ditadura.

Em 2013, finalmente os governos se comprometeram com a pauta e ficou definido que o imóvel será desapropriado, os proprietários serão indenizados e o centro de memória será batizado com o nome de Luiz Eurico Tejera Lisboa – militante gaúcho presto em 1972 e assassinado pelo regime, cujo corpo foi encontrado em 1979, no cemitério de Perus, em São Paulo. O projeto dos movimentos sociais prevê que o espaço não seja apenas de caráter museológico, mas que fique à disposição da população para que ocorra um processo de apropriação coletiva da memória da resistência à ditadura e sua consequente ressignificação.