OPOSIÇÃO VOLTA À CARGA
PSOL revela e-mails que citam “marido”
Posicionados em frente a cartazes com a frase “Fora Yeda”, os dirigentes do PSOL convocaram ontem a imprensa para engrossar o caldo das denúncias contra a governadora Yeda Crusius.
Desta vez, apresentaram cópias de e-mails para afirmar que o professor Carlos Crusius recebia recursos durante a campanha eleitoral, ao contrário do que ele diz.
Em folhas de ofício, a assessoria do PSOL distribuiu fotocópias de e-mails datados de setembro e novembro de 2006. Na primeira sequência de mensagens, um interlocutor não-identificado pelo PSOL combina com Alexandrino Alencar, então executivo da Braskem e hoje diretor da Odebrecht, a entrega de uma “encomenda”. O interlocutor pergunta se a encomenda poderia ser depositada em conta corrente. Alencar responde que entregará ao “marido”, supostamente em uma referência a Carlos Crusius. O PSOL não apresentou provas de que a “encomenda” foi de fato entregue a Crusius. Em entrevista a Zero Hora, o marido da governadora negou que fizesse arrecadação durante a campanha.
– Esses diálogos demonstram que o marido da governadora era, sim, o receptor de recursos. Sejam esses de caixa 1 ou de caixa 2 – disse Luciana.
A segunda troca de mensagens mostraria a existência de contribuições não registradas na prestação de contas da governadora, segundo o PSOL. Após o segundo turno, o integrante do PSDB de Rio Grande Juarez Molinari pede ajuda ao presidente da Federasul, José Paulo Cairoli, para buscar recursos e fechar a prestação de contas da campanha. Cairoli responde que as empresas Renner, Tumelero, Polo, Braskem, Puras e Ipiranga, que auxiliaram na fase anterior, não estão dispostas a dar nova contribuição. A Renner (Lojas Renner) e a Tumelero não figuram nas prestações de contas, afirma o vereador Pedro Ruas:
– Por um lado demonstra o apoio empresarial lícito. E por outro demonstra o ilícito.
Em nota oficial, a Executiva do PSDB afirmou que todos os pagamentos encaminhados ao PSDB e à campanha de Yeda “foram feitos exclusivamente através de operações pelas respectivas contas bancárias” e repudia “acusações infundadas”.
O PSOL afirmou que as denúncias apresentadas pela revista Veja complementam as suspeitas levantadas pelo partido no final de fevereiro, após a morte do ex-representante do Rio Grande do Sul em Brasília Marcelo Cavalcante.
Houve algum engano. A Tumelero não participou da campanha.
Por meio de nota, a Braskem diz ter feito contribuição para Yeda “com o estrito cumprimento da legislação eleitoral brasileira”. A doação, diz o texto, foi feita de “maneira pública e transparente, por meio de emissão de bônus eleitoral, e levou em conta a relevância do processo eleitoral para a consolidação das instituições democráticas”.
Por meio de nota, o dirigente afirma que “e-mail respondido ao diretor da Federasul, Juarez Molinari, informava apenas que as empresas citadas não complementariam as contribuições à campanha, considerando que a eleição já estava encerrada”. Cairoli informa ainda que desconhece os valores arrecadados e a forma como foram repassados ao comitê eleitoral.
Por meio da assessoria de imprensa, a empresa informou que os dois executivos que podem se manifestar a respeito do assunto estão em viagem. Por isso, as Lojas Renner não vão se manifestar por enquanto.
OS DIÁLOGOS
E-mails de 2006 foram divulgados pelo PSOL ontem. O interlocutor de uma das conversas não foi revelado:
Entre interlocutor não revelado e Alexandrino Alencar, hoje diretor da Organização Odebrecht e ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Braskem:
Enviado em: 12/09/2006
De: nome não relevado
Para: Alexandrino Alencar
Assunto: encomenda
Alexandrino,
Os paulistas não serão mais contratados, é possível entregar a encomenda em POA até quinta? Ou depositar em CC.
Enviado em: 12/09/2006
De: Alexandrino Alencar
Para: nome não revelado
Assunto: Res: encomenda
Deverá ser feito hoje com o marido, boa sorte
O QUE DIZ O PSOL
Como Alencar era representante do grupo Braskem-Odebrecht e citou a construtora, as mensagens indicariam que a Odebrecht estava negociando uma doação para a campanha da governadora Yeda Crusius. A prestação de contas de Yeda mostra apenas doações da Braskem, e não da Odebrecht. Segundo o partido, isso indica caixa 2. Além disso, a citação do “marido” indicaria que Carlos Crusius era um recebedor de dinheiro de campanha, o que desmente a versão sobre o papel dele no pleito de 2006.
Resposta de José Paulo Cairoli, presidente da Federasul, a Juarez Molinari, representante do PSDB, que havia pedido ajuda para obter apoio financeiro:
Enviada em: 21/11/2006
De: Cairoli
Para: Molinari
Assunto: apoio financeiro
Prezado Sr Molinari
As empresas que mantive contato durante a campanha da Gov Yeda auxiliaram financeiramente de acordo com suas disponibilidades Renner, Tumelero, Polo, Braskem, Puras, Ipiranga). Não consegui novas adesões ou complemento dos que participaram no 2º turno.
Grato
O QUE DIZ O PSOL
Como as Lojas Renner e a Tumelero não constam na prestação de contas de Yeda em 2006, os e-mails indicariam que houve caixa 2. Segundo o partido, a resposta de Cairoli mostra que essas empresas estavam na lista de quem já havia colaborado na campanha eleitoral.
Contrapontos
O que diz Sérgio Bandeira de Mello, diretor operacional da Tumelero
Houve algum engano. A Tumelero não participou da campanha.
O que diz Alexandrino Alencar, diretor da Organização Odebrecht e ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Braskem
Por meio de nota, a Braskem diz ter feito contribuição para Yeda “com o estrito cumprimento da legislação eleitoral brasileira”. A doação, diz o texto, foi feita de “maneira pública e transparente, por meio de emissão de bônus eleitoral, e levou em conta a relevância do processo eleitoral para a consolidação das instituições democráticas”.
O que diz José Paulo Cairoli, presidente da Federasul
Por meio de nota, o dirigente afirma que “e-mail respondido ao diretor da Federasul, Juarez Molinari, informava apenas que as empresas citadas não complementariam as contribuições à campanha, considerando que a eleição já estava encerrada”. Cairoli informa ainda que desconhece os valores arrecadados e a forma como foram repassados ao comitê eleitoral.
O que diz a Lojas Renner
Por meio da assessoria de imprensa, a empresa informou que os dois executivos que podem se manifestar a respeito do assunto estão em viagem. Por isso, as Lojas Renner não vão se manifestar por enquanto.
“A única pessoa que arrecada para Yeda sou eu”
Entrevista: Rubens Bordini, TESOUREIRO DE CAMPANHA
Ex-aluno de Yeda e Carlos Crusius, Rubens Bordini se tornou um fiel colaborador. Foi tesoureiro em todas as campanhas de Yeda – três à Câmara dos Deputados, duas à prefeitura e a última ao governo do Estado.
Zero Hora – O senhor fazia todo o contato com doadores?
Rubens Bordini – Não, tínhamos uma equipe de deputados que fazia contatos com os empresários. Quando se dispunham a participar, passavam o nome do financeiro das empresas. Eram dessa comissão o Onyx (Lorenzoni), o (Nélson) Proença, o (Paulo) Feijó, o (Carlos) Crusius. No segundo turno, entrou mais gente.
ZH – Alguém o acompanhava para receber a doação?
Bordini – Eu era a única pessoa autorizada pela governadora, responsável pelas contas, para operacionalizar a captação de recursos e autorizar despesas. Nunca havia recursos para honrar todas as despesas. Todos os empresários sabem, porque fiz seis campanhas, que a única pessoa que arrecada para Yeda sou eu.
ZH – Por que a Alliance One doou depois da campanha?
Bordini – A legislação diz que desde que comprovado que as despesas foram contraídas durante o período eleitoral, se permite arrecadação posterior.
ZH – Quanto faltou?
Bordini – Dei o recibo de R$ 596 mil para poder saldar contas pendentes.
ZH – A deputada Luciana Genro disse que o senhor estava numa reunião em que houve doações sem recibo .
Bordini – Eles tiraram meu nome, porque não participei daquela reunião.
ROSANE DE OLIVEIRA
Silêncio incômodo
Está ficando pesado para a sociedade gaúcha o silêncio do Ministério Público Federal em relação às denúncias feitas pelo PSOL há mais de dois meses. As respostas evasivas a perguntas sobre a existência de delação premiada e de fitas de áudio e vídeo comprometendo integrantes do governo criam uma teia de desconfiança e adubam o terreno para a proliferação de boatos que fazem indícios serem tratados como prova.
Quando um procurador diz que desconhece a existência das provas, não significa que outro não as tenha, porque são muitos atuando no mesmo caso. Todos com autonomia funcional: não precisam relatar ao chefe quando põem a mão em uma prova, embora geralmente trabalhem em equipe, e ciosos do sigilo que envolve, por exemplo, os acordos de delação premiada.
O Ministério Público Federal não pode deixar a sociedade nesse clima de incerteza até o fim dos tempos. O pedido da Ordem dos Advogados do Brasil para que seja levantado o sigilo da investigação tem por objetivo garantir à população gaúcha o direito de saber se sua governadora está ou não envolvida em irregularidades ou se foi vítima de calúnia difundida por adversários.
Em qualquer investigação o Ministério Público tem três caminhos:
1. Oferecer a denúncia. Se envolver autoridades com foro privilegiado no STF ou STJ, terá de encaminhar as provas ao procurador-geral da República;
2. Pedir novas diligências se achar que há indícios de crime, mas que as provas são insuficientes;
3. Arquivar se concluir que os testemunhos e os documentos levantados numa investigação não comprovam a existência de crime.
Ao silêncio do MPF somam-se outros dois elementos para criar clima de instabilidade política: a ação forte da oposição e a reação tíbia da governadora Yeda Crusius, que só agora parece ter sido convencida pela cúpula do PSDB nacional e por integrantes do Conselho Político a reagir com energia, acionando seus acusadores na Justiça.
Cobrança ao MPF
Não é só a OAB que reclama da demora do Ministério Público Federal em se manifestar sobre as suspeitas levantadas pela deputada Luciana Genro e pelo vereador Pedro Ruas, do PSOL, há 81 dias. A própria Luciana disse ontem estar cansada de ouvir que fez denúncias contra a governadora Yeda Crusius sem apresentar provas e reafirmou que as provas estão nas mãos dos procuradores.
Luciana também criticou a atuação do MPF no caso de Marcelo Cavalcante, que morreu sem prestar depoimento:
– O Ministério Público Federal não conseguiu garantir a integridade dessa testemunha. Não teve a capacidade de coletar o seu depoimento antes que essa tragédia acontecesse.
E acrescentou:
– Nós tememos pelo que possa acontecer com todo o material entregue ao Ministério Público.
Só indícios: as cópias de e-mail apresentadas ontem pelo PSOL, com o nome do receptor das mensagens apagado, não provam nada: apenas sugerem que o papel de Carlos Crusius na campanha de Yeda Crusius era mais relevante do que ele quer fazer crer e que tinha envolvimento com a arrecadação.
Mais do que isso só a CPI poderá concluir, quebrando sigilos e ouvindo testemunhas.