Atualmente em nossa sociedade uma ínfima minoria de milionários e poderosos vive explorando e oprimindo a maioria de nosso povo. Controla a economia e a política para manter e reproduzir sua vida de privilégios e de luxo. Creem que tudo tem preço, que tudo pode ser convertido em mercadoria. E todos os aparelhos do Estado, das Forças Armadas passando pelo parlamento e chegando até os grandes meios de comunicação, estão a serviço desta minoria. Não é diferente a situação dos partidos políticos. Distintas siglas defendem a mesma classe dominante. Seus líderes, deputados, senadores ou ministros defendem os interesses do capital e na maioria dos casos aceitam que até mesmo a honra seja mercantilizada.
Para lutar contra esta realidade acreditamos que os trabalhadores, os explorados e oprimidos, os jovens, as classes médias esclarecidas devem buscar se organizar. Para nós este deve ser o sentido de um partido político. Além das lutas contra a exploração, é necessário o combate em defesa dos direitos civis. Assim, é preciso reagir e combater o racismo, a homofobia, defender os direitos das mulheres e da juventude. E defender a natureza, que a classe dominante em sua sanha por mais riqueza e poder não hesita em destruir.
Desenvolver estas lutas é a razão de existência do PSOL. Nosso partido começou sua constituição em 2003. Suas bases são sólidas. Sua existência justificada. Não foi uma decisão derivada de uma decisão individual, de uma personalidade ou de um grupo político. Respondeu a uma necessidade histórica: manter viva a luta da esquerda e a representação genuína das bandeiras programáticas da classe trabalhadora e da juventude. Ao mesmo tempo, nosso partido surgiu negando as experiências totalitárias do stalinismo. Rejeitamos a obediência cega a um líder, seja ele parlamentar, presidente, secretário geral, nem aceitamos candidatos a messias. A emancipação da classe trabalhadora será obra da classe trabalhadora mesma. Este é um princípio do PSOL. Nosso partido surgiu defendendo o socialismo e a liberdade. Por isso somos um partido militante, uma associação de homens e mulheres livres com um programa anticapitalista.
Quando ficou claro que o PT havia aceitado fazer parte do jogo da política burguesa tradicional – com sua carga de fisiologismo e corrupção – e ao mesmo tempo resolveu seguir os ditames do FMI e aplicar os planos de ajuste de FHC e do PSDB, a ideia do PSOL ganhou vida. Dez anos depois estamos convencidos que a validade da existência do PSOL se confirma. Contra a velha direita e seus partidos burgueses, mas também sustentando a necessidade de coerência na defesa da esquerda.
Sabemos que construir um partido de novo tipo não é uma tarefa fácil. Exige tempo, paciência, dedicação e respeito ao processo coletivo de elaboração política. Exige saber ser maioria e minoria. Exige também, e, sobretudo, confiança na organização independente da classe trabalhadora e na sua capacidade de lutar e de se mobilizar por seus interesses.
Nestes dez anos de construção temos avançado muito. Ganhamos para nosso projeto muitos militantes e lideranças. Conquistamos respeito de parcelas de nosso povo e lutaremos para honrar cada homem e mulher que nos deposita o apoio, a amizade, o voto, a militância. Em 2012 tivemos uma enorme vitória, cuja maior expressão foi os quase um milhão de votos em defesa da candidatura de Marcelo Freixo a prefeitura do Rio de Janeiro, numa campanha de rua, militante, aguerrida.
Por tudo isso, de nossa parte, chamamos todos os nossos militantes a defender este projeto. Neste sentido queremos insistir uma vez mais em chamar a companheira Heloisa Helena a assumir seu lugar no PSOL Como todos sabem neste final de semana foi fundado o movimento para constituir um partido liderado por Marina Silva. E Heloisa esteve entre os presentes se apresentando como soldada de Marina. O problema, como veremos, é qual guerra Marina pretende comandar.
Fazemos este chamado não tanto por esperar que nossa ex-senadora o atenda, mas para deixar absolutamente claro que Heloísa Helena tem um imenso lugar reservado em nosso partido. Lamentamos sua decisão de apoiar Marina porque Heloísa foi fundadora do PSOL e nossa principal expressão pública nos primeiros anos de existência do partido. Depois, mesmo tendo apoio amplo, desistiu de ser representante nacional do PSOL. Embora o partido por unanimidade tenha reivindicado que ela fosse candidata presidencial nas eleições de 2010, a companheira resolveu se restringir a ser representante do povo de Alagoas. Respeitamos sua escolha. Mas sua decisão de acompanhar alguns poucos dirigentes do PSOL que estavam tremendamente questionados pela militância, dirigentes, estes sim, sem espaço no PSOL, em alguns casos por terem optado por fazerem parte de governos municipais do PT, em outros casos por estarem respondendo à Comissão de Ética do partido em função de suas relações (ainda) não convincentemente explicadas com empresários corruptos, é um grave erro que Heloísa está cometendo. Um erro que vai custar a impossibilidade absoluta de Heloísa se converter numa liderança dos trabalhadores brasileiros. A luta do PSOL seguirá.
O surgimento do partido ao redor de Marina Silva não representa nenhuma novidade importante. Embora seja expressão da crise dos partidos tradicionais, que não conseguem mais representar milhões de pessoas que querem apoiar uma forma de fazer política de acordo com interesses públicos, infelizmente Marina lança um partido que tem como objetivo principal apresentar seu nome para a disputa presidencial de 2014. Mas o problema deste projeto é muito superior a sua natureza de força política ao redor de um projeto meramente eleitoral. Ao se definir como um partido que não é nem de esquerda nem de direita e reivindicar os chamados avanços dos governos do PSDB e do PT, o partido liderado por Marina, infelizmente, se mantém nos marcos da sustentação de um regime político marcado pela defesa dos interesses do grande capital e pautado pelo a ideologia dominante de que não há possibilidade de uma sociedade controlada pelos trabalhadores e pelo povo. O partido liderado por Marina não será de defesa das reivindicações mais sentidas da classe trabalhadora, por melhores salários contra os grandes empresários, contra as privatizações da educação, da saúde, das grandes empresas então estatais – como foi o caso da Vale do Rio Doce. Não defenderá nem os bancos públicos nem a suspensão do pagamento da dívida pública que faz com que a maior parte dos recursos do orçamento da União sejam para sustentar as cinco mil famílias mais ricas do Brasil e o sistema financeiro. Não é à toa que entre seus líderes estão parlamentares do PSDB de SP, além de grandes empresários.
Por isso o PSOL, embora respeite e considere legítimo o surgimento deste novo partido, não deposita nenhuma ilusão em sua natureza. Trata-se de um partido que se limita a atuar numa linha de manutenção da atual estrutura economia e social do Brasil, uma estrutura dominada pelas grandes corporações internacionais e nacionais, pelo sistema financeiro e pelo agronegócio.
Assim, mais uma vez convocamos a todos nossos amigos e militantes a redobrar nossos esforços na construção de uma alternativa anticapitalista, democrática, dos trabalhadores e dos jovens. Junte-se a nós! Venha para o PSOL!
MES – MOVIMENTO ESQUERDA SOCIALISTA
CORRENTE INTERNA DO PSOL – PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE