Por proposição da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), candidatas do último concurso do Corpo de Bombeiros Militar relataram à Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa uma série de irregularidades que teriam ocorrido durante a aplicação do Teste de Aptidão Física (TAF) do certame. Os depoimentos de Ane Goularte Schmidt e Vitória Ligório reforçam as mais de 300 denúncias já recebidas pelo mandato da deputada e ajudam a explicar por que 75,14% das mulheres foram eliminadas nesta etapa, quase o dobro do índice masculino, que ficou em 40,39%.
Ane relatou que os problemas começaram ainda no edital, que previa inicialmente a posição do boneco como vertical, depois retificada para ventral, mas que acabou sendo apresentada na prática como dorsal. Ela também afirmou que os bonecos utilizados não eram padronizados. “No recurso, muitos tiveram o pedido negado sob a alegação de que ‘um dos bonecos era semelhante ao do vídeo de demonstração’. Ou seja, os outros não eram”, destacou.
Vitória Ligório reforçou a falta de padronização na aplicação do TAF. Segundo ela, pela manhã, a prova foi realizada com dois bonecos e em duplas, enquanto no turno da tarde foi preciso esperar mais de uma hora porque outro boneco estava sendo inflado para ser utilizado. Essa diferença entre turnos, segundo as candidatas, pode ter comprometido a isonomia exigida em qualquer concurso público. As denúncias apontam ainda excessivo tempo de espera entre as provas, que chegou a ultrapassar cinco horas, falhas na estrutura e execução dos testes, marcas de percurso confusas, piso irregular e escorregadio, e ausência de isolamento adequado no local, o que teria causado interferências externas e até quedas.
A deputada Luciana Genro, que vem acompanhando o caso e já havia se reunido com um grupo de candidatas, afirmou que há um padrão claro de falhas na condução da prova. Para ela, a banca aplicadora não estava preparada para aplicar o exame. “As mulheres foram as primeiras a fazer o TAF, e os ajustes foram sendo feitos ao longo do dia. Isso mostra falta de preparo. Não quero crer que tenha sido algo proposital para prejudicar as candidatas, mas o resultado prático foi um prejuízo real às mulheres”, destacou.
Diante da gravidade dos relatos, a deputada pediu que a Comissão reforce o pedido de investigação já feito pelas candidatas ao Ministério Público. A parlamentar também já enviou um ofício ao comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Julimar Fortes Pinheiro, cobrando informações detalhadas sobre os procedimentos de fiscalização, a conformidade dos equipamentos com o edital, a metragem real do percurso e as providências adotadas.
Os dados do concurso mostram a dimensão do problema: dos 2.280 convocados para o TAF, apenas 1.236 foram considerados aptos. Entre as 354 mulheres, só 88 passaram; entre os 1.926 homens, 1.148 foram aprovados. No total, o índice geral de reprovação atinge 45,79%. Para a deputada, esses números, somados aos relatos consistentes das candidatas, indicam que a igualdade de condições pode não ter sido garantida.