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| Matriz Africana

Mães, pais e filhos de Santo da cidade de Viamão trouxeram suas demandas e relatos à audiência pública proposta pela deputada estadual Luciana Genro (PSOL) e realizada no âmbito da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. O evento, ocorrido na Câmara Municipal da cidade, foi a quinta audiência sobre o tema que a parlamentar vem realizando em municípios gaúchos, após Santa Cruz do Sul, Cachoeirinha, Porto Alegre e Pelotas.

A mobilização gerada pela série de audiências públicas já trouxe resultados positivos, como a articulação com o Tribunal de Justiça, que se reuniu com Luciana Genro e com lideranças religiosas e se comprometeu com a pauta. “O Rio Grande do Sul tem uma história marcada pela diversidade cultural e pela presença muito viva das religiões de matriz africana, então o combate ao racismo religioso é uma urgência social. A mobilização dos terreiros também é fundamental para termos mais força para enfrentar essa problemática”, afirmou a deputada.

Uma das autoridades tradicionais que vêm comparecendo às audiências é o Pai Tiago de Bará, coordenador da Associação Independente em Defesa das Religiões Afro Brasileiras (Asidrab), que recentemente foi vítima de intolerância durante a procissão do Bará do Mercado, quando um agressor quebrou a estátua do orixá. “A repercussão do caso foi enorme e, após isso, conseguimos um espaço com a Brigada Militar, que está elaborando um protocolo humanizado de abordagem nos terreiros”, destacou Pai Tiago.

A notícia foi recebida com entusiasmo pelos participantes, que relataram que uma das principais dificuldades são denúncias de vizinhos sobre barulho de tambores, tratadas como “briga de vizinhos”. Pai Roberto de Bará, presidente do Conselho Municipal do Povo de Terreiro, reforçou a importância dos religiosos realizarem boletins de ocorrência para encaminhar casos ao Ministério Público.

Lideranças religiosas de Viamão expuseram retrato da situação no município.

A defensora pública Gizane Mendina, presidente do Núcleo de Defesa da Igualdade Étnico-Racial, destacou que a defesa do povo de terreiro é uma das prioridades do trabalho realizado. “Já ouvi relatos de pessoas que não praticam mais sua religião dentro de casa por terem medo. É preciso denunciar e, a partir da Defensoria, vamos buscar os direitos dos terreiros e seus integrantes”, afirmou. Ela disponibilizou dois canais para quem for vítima de intolerância acionar a Defensoria: o telefone 0800-6445556 e o e-mail nudier@defensoria.rs.def.br .

Viamão conta com mais de 800 terreiros, segundo Babá Phil, que abordou a importância de se chamar o preconceito contra as religiões afro pelo que realmente é: racismo. Já Iyá Josi de Xangô trouxe a questão da dificuldade de se debater o racismo religioso nas escolas. A intolerância, inclusive, muitas vezes faz os praticantes das religiões terem vergonha de falar de suas crenças publicamente, como destacou a Yalorixá Karla de Odé, integrante do PSOL Viamão.

Também fizeram falas o Pai Cristiano de Oxum, Cebola de Oxalá, Carina Kunze, secretária do PSOL Viamão e integrante do mandato da deputada federal Fernanda Melchionna, e o vereador Alex Boscani, que também foi proponente da audiência. Como encaminhamento, Luciana Genro destacou que irá buscar a Secretaria Municipal de Viamão para que sejam abertas as portas das escolas para este debate. A parlamentar também já solicitou reunião com o chefe de Polícia e com a Brigada Militar.