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A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) recebeu, em seu gabinete na Assembleia Legislativa, os advogados Márcio Lopes e Suellen Lopes, moradores da Serra Gaúcha. O casal procurou a parlamentar para denunciar um episódio de racismo sofrido por ambos no município de Nova Petrópolis e relatar outras situações de discriminação racial vividas na região. O encontro foi um momento de diálogo e articulação política para o fortalecimento do enfrentamento ao racismo estrutural no interior do estado.

“É inadmissível que o racismo siga sendo naturalizado. O que Márcio e Suellen enfrentaram não é um caso isolado. É reflexo de um sistema que ainda marginaliza pessoas negras em todos os espaços. Estamos ao lado deles e de todas as vítimas”, afirmou a deputada.

Como encaminhamento, os advogados e lideranças locais somadas ao mandato da deputada estão organizando um evento regional de letramento racial a ser realizado na cidade de Vale Real, onde fixaram residência. A atividade, prevista para as próximas semanas, terá como objetivo ampliar o debate público, fortalecer a consciência antirracista e promover a formação cidadã na região.

Eles foram alvo de ofensas racistas após atuarem como advogados de defesa em uma audiência de conciliação. Apesar da tentativa de acordo entre as partes, a audiência terminou sem resolução. Dias depois, um áudio com falas abertamente racistas foi enviado por uma das partes envolvidas em um grupo familiar de WhatsApp, com ataques direcionados aos advogados presentes na audiência. O conteúdo chegou até Márcio, que anunciou que tomaria medidas judiciais contra a autora das ofensas.

O caso foi incluído no processo pela Defensoria Pública, que representa a outra parte. Em manifestação, a defensoria alegou que a autora das falas é analfabeta e moradora de uma região que trataria como “normal” usar tais expressões. A tentativa de relativização do racismo foi também motivo de indignação por parte dos advogados durante o relato feito à deputada.

“Infelizmente, o que vivemos é o retrato de um racismo cotidiano que muitos preferem ignorar, especialmente no interior. A diferença é que, desta vez, decidimos não nos calar. Não só por nós, mas por tantas outras pessoas negras que enfrentam esse tipo de violência todos os dias e muitas vezes não têm espaço ou apoio para denunciar. Precisamos transformar a indignação em ação,” declararam os advogados.

O encontro, com data ainda a ser divulgada, contará com a presença de representantes do movimento negro, entidades jurídicas, educadores e lideranças comunitárias, sendo aberto à participação de toda a população. “Não basta punir casos pontuais. É preciso agir na raiz do problema, com educação, escuta e transformação cultural. O letramento racial é uma ferramenta essencial para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária”, finalizou a parlamentar.