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A grave situação da falta de água no Morro da Polícia, em Porto Alegre, foi denunciada nesta terça-feira (25) à Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. A participação de moradores ocorreu nos Assuntos Gerais da Comissão, por solicitação da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), que vem acompanhando de perto a luta da comunidade.

Luciana Genro criticou a naturalização do problema e lembrou que o Morro da Polícia já sofre com a falta de água nos verões, mas agora a crise se estende também ao inverno. “Estamos vendo famílias pagando contas de R$500 sem sequer ter água na torneira! A população está sendo orientada a pedir água no orçamento participativo, quando isso é um direito básico. Água não é prêmio, é obrigação do poder público”, afirmou.

Como encaminhamentos imediatos, a Comissão irá solicitar uma audiência com o presidente do DMAE, enviar um ofício cobrando providências da Prefeitura de Porto Alegre e acionar o Ministério Público para acompanhar o caso. O objetivo é pressionar o Executivo municipal a abandonar os meios paliativos, como o uso contínuo de caminhões-pipa, além de apresentar uma solução definitiva para garantir o acesso à água na região.

A moradora Suelen Weican fez um apelo emocionado, revelando o esgotamento psicológico diante da negligência do poder público. “Estou cansada. Sempre tenho que pedir água no orçamento participativo, quando eu queria estar pedindo uma praça, um campo de futebol para as crianças. Mas nem o básico temos”, desabafou. Ela relatou ainda as constantes promessas não cumpridas pela direção do DMAE, que alega problemas com bombas e infraestrutura, sem apresentar soluções concretas.

Representando a comunidade da rua Galdino Jesus dos Santos, a moradora Márcia Pastuch destacou que a falta d’água é um problema histórico, que se agravou com o passar dos anos. Ela denunciou que, mesmo com abastecimento intermitente ou inexistente, as contas continuam chegando e com valores elevados. “Pagamos pelo vento. A água não chega, mas as cobranças sim”, disse. Márcia também criticou o desperdício de recursos públicos com a troca de hidrantes que não resolveram o problema estrutural da canalização e da pressão insuficiente nas áreas mais altas.

Já Anderson Carboni, morador da Rua do Mato, alertou para o risco de acidentes com os caminhões pipa que precisam subir ruas íngremes para atender as famílias. “É uma tragédia anunciada. Se um freio falhar, pode acontecer um desastre”, afirmou. Ele também denunciou a má qualidade da água que chega à comunidade, afirmando que algumas pessoas chegaram a passar mal após consumi-la. Relatou que pediu bombas para auxiliar na distribuição, mas recebeu como resposta a desculpa de que o equipamento estaria indisponível em função das enchentes.

Luciana Genro reforçou que a responsabilidade pelo acesso à água é do poder público e não pode ser empurrada para os moradores por meio do orçamento participativo, relacionando o caso ao processo de desmonte dos serviços públicos que vem sendo promovido pela gestão municipal. “Essa precarização do DMAE não é por acaso. É a tática de sempre: sucateia, gera revolta e depois usa isso como argumento para privatizar. A CPI do DMAE precisa investigar também essa dimensão do problema. Vamos continuar lutando até que a água chegue com dignidade a cada casa do Morro da Polícia,” encerrou.