A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) participou da 3ª Festa em Homenagem ao Bará do Mercado Público de Porto Alegre, realizada em 13 de junho, quando muitos religiosos de matriz africana consideraram o Dia do Bará. O evento, que celebra uma das principais divindades das religiões de matriz africana, já é tradicional na capital. Além de estar presente no cortejo, a parlamentar destinou R$100 mil a partir de uma emenda, verba que garantiu a realização do evento.
Centenas de representantes religiosos e apoiadores deram início às festividades na Esquina Democrática seguindo até o Mercado Público, onde um mosaico representa o local em que está assentado o Bará do Mercado, um dos pontos mais importantes para as religiões de matriz africana no Rio Grande do Sul e que é reconhecido oficialmente como patrimônio histórico-cultural da cidade. De lá, ao som dos tambores e do batuque, o grupo seguiu até o Largo Glênio Peres onde, no palco do evento, foram feitas uma série de homenagens ao orixá.
A deputada destacou que essa é uma expressão legítima de resistência, memória e fé, fruto da contribuição do povo negro para a construção do Brasil. “A história do Brasil foi construída pelo povo negro também. Isso precisa ser reconhecido por todos e todas. O Poder Público precisa apoiar os povos de matriz africana, as religiões de matriz africana, da mesma forma como apoia outras religiões. O Estado é laico e não pode escolher uma religião”, afirmou Luciana Genro. “Por isso, o Estado precisa não só reconhecer, mas de fato valorizar e proteger esse legado que foi deixado”, defendeu.
Infelizmente, o fim do evento ficou marcado por um ato de intolerância religiosa. Segundo relatos do Pai Tiago de Bará, um dos organizadores do evento, um homem invadiu o cortejo e quebrou a estátua que representava o orixá. “O ocorrido revela de forma flagrante como o preconceito, a intolerância e o racismo ainda se manifestam na sociedade. Enquanto o povo de axé luta pelo direito de expressar livremente suas crenças, sua cultura e suas tradições, lamentavelmente, ainda presenciamos esse tipo de comportamento”, lamentou a parlamentar. O responsável pelo dano foi contido pelos presentes até a chegada da Brigada Militar e, em seguida, encaminhado para a Delegacia de Polícia.
“Tomaremos todas as medidas cabíveis para que essa pessoa seja devidamente punida pelo ocorrido”, garantiu Luciana Genro, que se colocou à disposição do grupo. O assunto será levado para a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos por iniciativa da deputada.
Ferrenha defensora da liberdade religiosa e do direito de cada indivíduo professar sua fé sem medo ou repressão, Luciana Genro tem realizado uma série de audiências públicas sobre o preconceito contra as religiões de matriz africana em várias cidades do Rio Grande do Sul. Ao todo, já foram realizados 4 desses encontros, nas cidades de Santa Cruz do Sul, Cachoeirinha, Porto Alegre e Pelotas. No próximo dia 18 (quarta-feira), ocorrerá uma nova audiência pública em Viamão, na Câmara de Vereadores da cidade.
A deputada (PSOL) é autora de dois Projetos de Lei que visam declarar os Assentamentos do Bará ligados ao príncipe Custódio de Xapanã em Porto Alegre, como por exemplos do Mercado Público e do Piratini, e também o assentamento do Bará do Mercado de Pelotas, como de relevante interesse histórico e cultural para o Rio Grande do Sul. As iniciativas buscam preservar e, principalmente, valorizar esses espaços e ritos fundamentais às tradições de matriz africana, em especial o Batuque, religião afro-brasileira amplamente praticada no estado.
A parlamentar apresentou outros dois Projetos de Lei que valorizam as tradições religiosas de matriz africana no estado. O PL 200/2025 propõe o reconhecimento oficial do Batuque Gaúcho como parte do Patrimônio Cultural Imaterial do estado, destacando sua importância histórica, identitária e religiosa. Já o PL 197/2025 busca consagrar o Toque de Tambor como prática cultural imaterial, reconhecendo-o como linguagem sagrada essencial aos rituais afro-gaúchos e fundamental para a transmissão de saberes tradicionais, reforçando o combate ao racismo e a valorização da cultura afro-gaúcha.