Famílias de pessoas com autismo e com deficiência encaram diversos desafios na busca por atendimento adequado, tratamento e inclusão. Na cidade de Viamão, a situação é grave, conforme relatou Daiane Silva da Silva, mãe de um menino autista de nove anos. Ela esteve presente na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, ao lado de Magda Chagas, coordenadora do coletivo Pra Elas com Elas, a convite da deputada Luciana Genro (PSOL).
A parlamentar vem acompanhando a questão da inclusão dos estudantes com deficiência e participou do I Congresso voltado para o tema, a convite de Aline Kerber, presidente de honra da Associação Mães e Pais pela Democracia. “Sabemos que muitas vezes recai sobre a mãe a responsabilidade de garantir a qualidade da educação de um filho, de uma filha. Muitos destes problemas são comuns a todo estado e talvez todo Brasil. Não temos um planejamento educacional voltado para a inclusão. Precisamos que a inclusão seja pensada de forma a cruzar toda a educação, tem que ser um tema transversal em todas as esferas do debate educacional”, frisou Luciana Genro.
Daiane relatou que os serviços de saúde voltados para pessoas autistas quase inexistem na cidade. “Estamos com falta do medicamento antiepiléptico na farmácia desde agosto, só tem a versão comprimido, que é muito difícil para eles ingerirem. Agora há pouco ficamos sem o risperidona, que é um antipsicótico. São quatro meses sem a medicação, acabou com o tratamento nesses meses. Sem falar na espera por consulta com o neuropediatra, temos apenas um para toda a cidade”, destacou.
As mães denunciam que o tratamento especializado “nunca chega”, pois há filas de espera enormes para atendimento com profissionais como fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas. “Somente via processo judicial é possível conseguir tratamento de qualidade”, afirmou Daiane. Nas escolas, a situação não é diferente. ” Quando tentam incluir o indivíduo atípico, o professor não consegue. Falta preparo pros professores, falta capacitar”, colocou.
Daiane relatou que faltam salas de recursos, banheiros adaptados, monitores ou professores assistentes para dar tratamento mais individualizado para estes estudantes. Segundo ela, a prefeitura de Viamão havia prometido inaugurar um Centro de Referência em Autismo, que havia sido inicialmente previsto para fevereiro de 2023. “Mas por problemas estruturais que só foram vistos depois, ainda não saiu e não tem mais previsão de sair”, relatou.
A organização Pra Elas com Elas reúne mulheres da cidade de Viamão, da qual 12 são mães atípicas, segundo relatou a coordenadora, Magda Chagas. “Elas estão desesperadas, são pessoas solitárias na luta. A gente quer o planejamento na educação das crianças, sejam atípicas ou não. A gente quer da prefeitura o que afinal se planejou, qual o objetivo, meta, índice de controle”, cobrou.
Como encaminhamento, a Comissão irá enviar um ofício à prefeitura de Viamão pedindo explicações, prazos, planejamento, se existe um plano de inclusão para as novas escolas que estão sendo inauguradas no município, assim como solicitando informações sobre a política para educação infantil e inclusiva no município, envolvendo o investimento de recursos pedagógicos e tecnologia assistiva. As mães já pediram uma reunião com a prefeitura e ainda não foram atendidas, então a Comissão também irá reforçar esse pedido.