Foi lançada na noite desta quinta-feira (18/11) a Frente Parlamentar do Afroempreendedorismo na Assembleia Legislativa gaúcha. A iniciativa partiu da deputada estadual Luciana Genro (PSOL), atendendo a um pedido da Rede Brasil Afroempreendedor (Reafro). O lançamento ocorreu no auditório Dante Barone, em formato híbrido, e contou com a presença de parlamentares, lideranças da Reafro e ativistas do movimento negro.
“O afroempreendedorismo no Brasil é, na maioria das vezes, feito por mulheres, solitário, fortemente ligado ao comércio, comunicação e à indústria do cuidado. A maioria abriu seu negócio por vivenciar as dores de não ser atendido em outros serviços devido ao racismo. É mais do que necessário que a gente olhe com atenção ao afroempreendorismo”, disse a deputada Luciana Genro.
Ela citou os dados que escancaram a desigualdade no acesso ao trabalho no país. “Os trabalhadores negros recebem um salário 17% menor que o das pessoas brancas. E as mulheres negras recebem apenas 30% do que ganha um homem branco”, ressaltou. No mercado, informal, a população negra chega a 47% enquanto o número de pessoas brancas é de 34%. “As pessoas negras vivenciam a informalidade de forma mais intensa em um país marcado pelo legado da escravidão”, ponderou Luciana Genro.
O sociólogo e coordenador-executivo da Reafro, João Carlos Nogueira, denunciou o estigma que atinge os afroempeendedores, que não são tratados com o mesmo respeito que os empreendedores brancos. “O empreendedor não negro é retratado de forma positiva, como um empresário. Já ao empreendedor negro é associada uma carga negativa. Somos 12 milhões de precarizados buscando sobreviver”, disse.
A delegada Andréa Mattos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância, informou que a maior parte dos casos atendidos pela DPCI dizem respeito a crimes envolvendo discriminação racial. “Isso me assusta muito”, confessou. Ela manifestou seu apoio à Frente Parlamentar do Afroempreendedorismo e à criação de políticas afirmativas para a população negra.
Presidenta da Reafro no Rio Grande do Sul, Stael Soraya dos Santos milita há 33 anos no movimento social negro e considera a criação da Frente Parlamentar “um momento ímpar na nossa militância e de fundamental importância à comunidade negra gaúcha”. Ela destacou que a população negra é empreendedora para sobreviver. “Buscamos empreender sem crédito, sem capital, mas com muita criatividade. Esta Frente Parlamentar deve contribuir pra que esses trabalhadores tenham a capacitação necessária para que seus negócios progridam. Os empreendedores negros não têm acesso ao microcrédito, formação e CNPJ”, denunciou.
O Movimento Negro Unificado (MNU) também esteve presente no evento. A representante Letícia Marques Padilha frisou que, no Brasil, “a cor da pele chega antes de qualquer outra coisa”. Por isso, segundo ela, “é tão difícil para a comunidade negra conseguir investimento na área do empreendedorismo”.
A vereadora de Porto Alegre, Laura Sito (PT), é coordenadora da Frente Parlamentar do Afroempreendorismo na Câmara Municipal. Ela destacou o trabalho conjunto que pretende realizar com a Frente Parlamentar estadual. “Para nós não se trata de empreender por oportunidade, como para os brancos, mas sim por necessidade”, comentou. Também esteve presente no lançamento o vereador suplente Baba Diba de Yemanja (PT), que está na titularidade do mandato durante a Semana da Consciência Negra. Ao final do evento, ele celebrou preces tradicionais das religiões de matriz africana.
Também presidente da Reafro RS, Medusa Kafele ressaltou que falar em afroempreendedorismo é falar em nome de todos os ancestrais do povo negro. “Queremos tratar de reparações que até hoje nunca foram feitas. Queremos instalar frentes parlamentares como essa em Câmaras Municipais do Rio Grande do Sul”, projetou.
O tesoureiro da Reafro, Cristiano Barcellos, também participou do evento e defendeu a necessidade de políticas de acesso a crédito para os afroempreendedores. A deputada Luciana Genro se comprometeu a lutar por isso junto ao Banrisul, em conjunto com a Frente Parlamentar municipal.