Uma jovem trabalhadora da fábrica dos Calçados Zenglein, de Novo Hamburgo, sofreu um grande constrangimento na última quinta-feira (24), quando foi impedida de usar o banheiro no local de trabalho e acabou urinando nas calças. Segundo reportagem do Jornal NH, para acessarem o sanitário, os sapateiros e sapateiras precisam pedir a chave, pois o local fica trancado. Na ocasião, não havia ninguém para substituir a funcionária e a chave foi negada pela chefia. Diante do absurdo da situação, a deputada Luciana Genro (PSOL) está solicitando à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa uma audiência pública sobre o caso.
Relatos de trabalhadores da indústria calçadista no Vale dos Sinos indicam que a restrição de acesso ao banheiro é uma prática comum no setor, que teria por hábito deixar as portas sempre trancadas e fazer com que os funcionários precisem solicitar a chave, que pode ser concedida ou negada de acordo com decisão de superiores.
Serão convidados a participar da audiência o Sindicato das Sapateiras e dos Sapateiros de Novo Hamburgo, que vem denunciando o ocorrido com a funcionária; o Sindicato da Indústria do Calçado de Novo Hamburgo; o Ministério Público do Trabalho (MPT); o Conselho Estadual dos Diretos Humanos; a Associação dos Advogados Trabalhistas do Rio Grande do Sul – AGETRA; a Central Única dos Trabalhadores – CUT/RS; a Intersindical; e CSP-Conlutas.
O Sindicato das Sapateiras e Sapateiros buscou contato com a empresa sobre o ocorrido, de acordo com a CUT-RS, mas inicialmente não obteve retorno e encaminhou uma notificação extrajudicial, com cópia ao MPT, pedindo que a empresa se manifeste. Na segunda-feira (28), o sindicato realizou um ato de repúdio em frente à empresa, colocando um vaso sanitário com um cartaz escrito “Libera o banheiro já” na entrada da fábrica. Segundo o sindicato, a empresa então se manifestou através de uma carta afirmando que o ocorrido foi “uma infelicidade ímpar” e se eximindo de responsabilidade, o que motivou novo ato nesta terça-feira (29).
“A Direção do Sindicato releu todo o documento remetido pela empresa diante de todas e todos os funcionários presentes e o repudiamos veementemente. É um comunicado que não diz nada. A empresa simplesmente ignorou o acontecido e tenta de uma forma sutil responsabilizar a vítima e suas colegas de trabalho. Portanto, não aceitamos este tipo de argumento que tenta desqualificar o Ato do dia 28”, afirma o Sindicato das Sapateiras e dos Sapateiros de Novo Hamburgo.
Para Luciana Genro, o ocorrido é inaceitável. “É uma questão de desrespeito aos direitos humanos mais básicos. Não é possível que uma trabalhadora tenha negado seu direito de realizar necessidades fisiológicas. Estamos acionando a Comissão e esperamos que a audiência seja aprovada para que possamos discutir esse assunto o mais rápido possível”, colocou a deputada.