Trabalhadores do Hospital Porto Alegre (HPA) relataram as dificuldades e articularam mobilizações referentes ao atraso de seus salários, que já dura três meses, em audiência pública realizada pela Frente Parlamentar em Defesa dos Trabalhadores da Saúde, coordenada pela deputada estadual Luciana Genro (PSOL), nesta segunda-feira (7). São cerca de 80 técnicos de enfermagem e funcionários da limpeza que estão sem receber e deflagraram uma greve no dia 17 de maio, além de profissionais demitidos que não receberam verbas rescisórias.
“Queremos ouvir os trabalhadores e dependendo da situação podemos fazer uma representação para o Ministério Público. A gente sabe que é insustentável a situação dos trabalhadores sem receber os seus salários”, iniciou Luciana Genro.
Julio Appel, secretário-geral do SindiSaúde-RS, relatou que estava em reunião de negociação na qual foi informado que os salários de março seriam pagos, mas ainda não os de abril e maio. “Temos que ter transparência nas contas do hospital. Ninguém sabe nada. Quem deveria ser responsabilizado por essa situação foi chamado, mas não está aqui hoje”, colocou.
A situação dramática dos trabalhadores foi resumida por Michelle Vargas, uma das grevistas: “Alguns colegas estão tirando empréstimos pra pagar as contas. Está insustentável, está bem complicado. A gente vira a noite trabalhando, enfrentamos a pandemia, arriscando nossa vida e dos nossos familiares e hoje não temos nenhum retorno”.
Os trabalhadores contratados diretamente pela instituição são os que estão sem receber, enquanto aqueles que trabalham via uma empresa terceirizada seguem recebendo e trabalhando. Já existe uma denúncia no Ministério Público do Trabalho sobre a falta de pagamentos, e o procurador Rogério Fleischmann esteve presente na audiência relatando a situação. “Expedimos uma notificação para a investigada (a direção do hospital) informar o que está acontecendo e o prazo já passou, então não houve sequer resposta. Estranha o hospital não ter respondido a notificação e nem ter trazido qualquer elemento para gente entender. O mínimo que a gente espera é que o hospital nos traga os elementos contratos do motivo pelo qual os atrasos estão acontecendo, onde está o dinheiro”, afirmou o procurador.
Diante da situação, o vereador Roberto Robaina (PSOL), que também vem acompanhando a questão, propôs que seja realizada alguma ação, em forma de protesto, para pressionar pelo pagamento dos valores. A deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL) também esteve presente e se colocou à disposição para auxiliar em mobilizações dos trabalhadores, para que seja possível cobrar do poder municipal a respeito dos repasses para a direção. O hospital é privado, mas atende pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) desde fevereiro a partir de um convênio com a prefeitura de Porto Alegre. O HPA também recebeu verbas de emendas parlamentares.
Luciana Genro entende que o problema também é da prefeitura, e sugeriu que ela e os demais parlamentares presentes intermediem uma conversa com o executivo municipal. “Vamos produzir uma peça para o Ministério Público Federal para pedir investigação sobre o uso das verbas do SUS e também poderíamos fazer um documento de apoio à luta dos funcionários e exigência à direção do hospital para que pague os salários atrasados, e coletar assinaturas dos deputados e vereadores”, encaminhou a deputada.