*Por Poliana Corrêa
As tardes de sábado passaram a ter outro sentido e motivação, a partir da matrícula no curso Laudelina de Campos Melo, o primeiro do Emancipa Mulher: Escola de Emancipação Feminista e Antirracista. Desde o dia 29 de abril, embarquei como aluna nesse projeto por basicamente dois motivos: pelas mulheres envolvidas na concepção do mesmo – Luciana Genro, Winnie Bueno, Joanna Burigo e Mariana Riscali – e por ser o primeiro curso e espaço de diálogo que chegou ao meu conhecimento, em Porto Alegre, que evidenciava o entendimento de que a emancipação feminista está diretamente ligada a luta antirracista.
Durante o curso, com diferentes atividades, foram apresentados os inúmeros movimentos de resistência negra e de mulheres, ondas feministas, a atuação das mulheres no mercado de trabalho e como ela funciona pela perspectiva de raça, gênero e classe, além das dinâmicas sociais de controle de corpos, masculinidades, encerrando com saúde sexual da mulher – aliás, dia 25/11 será realmente a aula de encerramento. A inda que com um número sempre maior de alunas brancas, a cada encontro há o reforço de que toda a reunião de mulheres cria novas possibilidades para o movimento feminista e que a dinâmica de raça neste contexto também precisa melhorar.
O feminismo branco precisa parar de varrer a intersecção de raça para de baixo do tapete, tratando a misoginia como única forma de opressão que exige erradicação para que as mulheres sejam livres. Não falar sobre racismo e não se reconhecer como opressora dentro da nossa estrutura social, faz com que o preconceito racial anti-negritude siga se proliferando descontroladamente, e que as próprias mulheres brancas continuem se beneficiando do racismo sem muitos problemas. Esse mesmo feminismo precisa evoluir e integrar-se às sociedades multiculturais, se estiver genuinamente preocupado com a libertação de todas as mulheres.
Com alguma noção de realidade, é impossível pensar que as vidas de mulheres brancas e negras são as mesmas. Da mesma forma que não faz sentido algum, mulheres brancas seguirem se posicionando como as controladoras do discurso feminista, onde somente elas têm o poder de determinar o que é ou não importante nas pautas do movimento. A reflexão sobre por que as discussões sobre privilégio branco e racismo são frequentemente descartados como preocupação feminista é urgente. Só assim será possível também dissipar as camadas de desconfianças que mulheres negras sentem em relação a mulheres brancas de forma tão latente no contexto feminista. Se o feminismo é sobre sororidade, que a gente caminhe para uma irmandade que apoia e liberta a todas.
O processo é dolorido. No contexto de raça, a autocrítica não coloca feministas brancas em lugares muito confortáveis, mas esse desconforto é vital. Nossa luta em desfazer a misoginia precisa corresponder ao esforço em desfazer o racismo. O resultado será uma rede de fato solidária entre os indivíduos e, principalmente, entre as mulheres.
*Poliana Corrêa é Publicitária e Feminista Negra.