Por Luciana Genro
Hoje, 20 de novembro, é o Dia da Consciência Negra. A data marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder da resistência à escravização no Brasil. Nem todo mundo sabe, mas Zumbi tinha ao seu lado uma guerreira na luta por liberdade: Dandara, sua companheira, esteve na linha de frente da resistência, mas não costuma ser tão mencionada ou reverenciada. Felizmente as mulheres negras estão mudando este jogo, contando a história com suas próprias vozes e resgatando a importância de figuras como a de Dandara dos Palmares.
Essa reflexão inicial nos remete à situação da população negra hoje em dia no Brasil, especialmente das mulheres. Sobre as mulheres negras pesa a crueldade da discriminação machista aliada ao preconceito racial – e LGBTfóbico, quando falamos de mulheres negras lésbicas e transexuais.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014 demonstra que o aumento do desemprego gritante em nosso país atingiu com mais perversidade as mulheres negras. O estudo aponta que em 2014 o Brasil tinha 2,4 milhões de mulheres negras desempregadas, enquanto que o número de homens brancos desempregados era exatamente a metade: 1,2 milhão.
Das mulheres negras empregadas, acima de 16 anos, somente 31,3% possuíam carteira assinada em 2014. E, ainda por cima, recebiam um salário 60% inferior ao dos homens brancos.
Se no mercado de trabalho a situação, que já é preocupante, se agrava ao observarmos os números da violência. Segundo dados do IPEA de 2013, mais de 60% das mulheres assassinadas entre 2001 e 2009 eram negras. O Mapa da Violência 2015, publicado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, informa que em um ano morreram 66,7% mais mulheres negras do que brancas no Brasil.
São dados que ilustram a barbárie civilizatória que muitas vezes é escondida para baixo do tapete no Brasil, sob o mito hipócrita da “democracia racial”, que não passa de uma grande fábula nacional. Recentemente, em Porto Alegre, pudemos observar o racismo institucional na prática, com a decisão da Justiça, a pedido do Sindilojas, de revogar o feriado do 20 de novembro na cidade. Como bem disse a combativa militante negra e feminista Winnie Bueno: “A abolição da escravização eliminou a escravidão apenas enquanto categoria jurídica. Permanecemos sendo tratados enquanto sujeitos de menor valor por todas as esferas do estado”.
A luta das mulheres negras está mudando este jogo. As meninas negras estão na linha de frente de muitas ocupações em escolas e universidades, resistindo aos ataques do governo ilegítimo de Michel Temer. A coordenadora-geral do maior centro estudantil gaúcho, o DCE da UFRGS, é uma menina jovem, negra e da periferia de Porto Alegre: a Kassiele Nascimento. As vereadoras mais votadas em Belo Horizonte e em Niterói, Áurea Carolina e Talíria Petrone, ambas do PSOL, são jovens e negras. Sem falar na eleição de Marielle Franco no Rio de Janeiro, com 46 mil votos. São elementos que nos demonstram que existe resistência e luta em meio a retrocessos. Que somos, sim, fortes. E que somos ainda mais fortes quando andamos juntas.
Neste dia 20 de novembro, vamos gritar em alto e bom som: “Viva Dandara dos Palmares, viva a luta das mulheres negras!”