Por Wálmaro Paz
De 30 de maio a 5 de junho, Porto Alegre celebra a Semana Municipal do Meio Ambiente. O Compartilhe a Mudança conversou com diversos ambientalistas para ouvir suas ideias, sonhos e propostas para a nossa cidade.
O presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) Leonardo Melgarejo; o Biólogo e arquiteto Francisco Milanez e o professor Paulo Brack, do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGa), foram alguns que se manifestaram sobre os mais diversos problemas. Desde a necessidade de valorização do Fórum Ambiental de Porto Alegre pelas autoridades, que deveriam ouvir mais as entidades que o compõem, até a ocupação de prédios abandonados no centro históricos utilizando-os para moradia.
Melgarejo lembrou que a Agapan tinha um programa de arborização para Porto Alegre. “A Zona Norte praticamente não tem árvores e as pessoas precisam da cobertura verde, que exerce até um efeito psicológico sobre suas vidas, aliviando as tensões do cotidiano”. Segundo ele, é claro que não dá para plantar paineiras nos meio fios, “ mas se pode plantar árvores adequadas a cada espaço”.
O professor Brack foi além: “Não basta plantar árvores, temos que impedir as derrubadas”. Ele afirmou que isto vem ocorrendo com a privatização de área públicas na cidade. Somente na ponta do Gasômetro foram retiradas 115 arvores para dar lugar a circulação de automóveis. “Muitas outras estão sendo retiradas ou estão com seus dias contados por causa da privatização de áreas para empreendimentos de especulação imobiliária”, diz.
Paulo Brack acredita que tem que haver um freio para os empreendimentos na Zona Sul da cidade. “Precisamos rediscutir o plano diretor e decretar uma moratória para os grandes empreendimentos naquela área que estão sendo incentivados pela prefeitura nas áreas nobres e encostas de morros. O empreendimento Arado Velho, em Belém Novo, é um projeto de loteamento de 430 hectares numa antiga área de preservação. Temos ainda o Alphaville 2 que são mais de 400 ha. E a devastação total para a especulação imobiliária. São áreas nobres que poderiam ser reservas ambientais”, aponta.
Brack lembra que no morro São Pedro foi criado um refúgio da vida silvestre como compensação pela estação de tratamento de efluentes da Serraria, para compensar a drenagem de mais de 200 hectares de banhados, que foram utilizados na construção da estação. A SMAN queria criar uma APA (Área de Preservação Ambiental) de pelo menos 5 mil hectares, que protegeria o entorno do morro com corredores ecológicos. Mas o Sindicato da Construção civil se colocou contra e isso está parado há mais de três anos.
Outro projeto pensado pelos ambientalistas é a criação de um cinturão verde agroecológico em Porto Alegre, articulado com os caminhos rurais. “Se juntar os caminhos rurais com agroecologia estaremos dando incremento para atividade econômica para as pessoas que não querem transformar aqueles sítios em área urbana”, defende Brack.
Já o biólogo e arquiteto Francisco Milanez analisa a retirada de areia do Guaíba para a construção civil. Segundo ele deve se fazer uma retirada responsável, avaliando-se o custo ambiental. “Os estudos que foram feitos até agora foram somente de base geológica. Tem que fazer um estudo ecológico porque a retirada de areia pode poluir as nossas captações de água, que são majoritariamente no Guaíba”.
Além disso esta atividade pode trazer problemas ainda mais graves com a fauna e a flora do leito do rio como a reprodução dos peixes e a as alterações na cadeia alimentar.
Ele entende que existe uma demanda de areia para construção, “mas esta areia tem que vir de algum lugar menos danoso para o próprio bem da sociedade”. De acordo com Milanez, as nossas construções continuam desperdiçando materiais e poderiam utilizar o material de demolição nas novas edificações.
A questão de reciclagem de resíduos, que nos últimos anos tem sido abandonada, também deve ser retomada, segundo os ambientalistas. Brack sugeriu a colocação de containers para o lixo seco, desta forma a população não continuará misturando os resíduos.