A Grécia viveu 17 greves gerais nos últimos dois anos. Essa foi a reação do povo grego aos ataques perpetrados pelos governos dos dois partidos que têm se revezado no poder. Tanto os conservadores, que podemos comparar aos governos do PSDB/DEM, como os ditos socialistas, equivalentes ao PT, aplicaram os planos demandados pelo FMI e pelo Banco Central Europeu para garantir drenagem de bilhões de euros aos bancos. O resultado é um desemprego de mais de 20%, sendo que entre a juventude o índice chega a 50%. O desespero dos aposentados que tiveram redução nominal de seus proventos pode ser visto nas ruas, como eu mesma vi nos dias que lá estive.
Tamanha crise também se refletiu nas eleições. Syriza, coalizão da esquerda radical, obteve mais de 16% dos votos, alcançando o segundo lugar e impedindo a formação de um governo que cumprisse as novas metas de cortes nos salários, aposentadorias e demissões de servidores públicos. Sendo um país parlamentarista, novas eleições foram convocadas para junho. Minha viagem à Grécia teve por objetivo levar à Syriza o apoio do PSOL a essa luta. Mas a Grécia não está sozinha na crise.
Na Espanha é o movimento dos “indignados” que dá voz à resistência, materializada na recente greve geral de estudantes e professores que paralisou todos os níveis de ensino contra os cortes nas verbas da educação. Diante de um quadro de crise profunda, a Europa discute qual a saída. Para os capitalistas, a solução são os ataques ao nível de vida do povo para que os bancos sigam recebendo seus juros. A novidade é que na Grécia a resistência do povo a essa lógica expressou-se nas eleições através do crescimento da Syriza, que pulou de 4% dos votos em 2009 para projeções de mais de 20% nas eleições convocadas para junho próximo.
Alexis Tsipras, o líder da Syriza, propõe “refundar a Europa” e “derrotar os poderes financeiros, o grande inimigo dos povos, que não governam mas decidem tudo”. A proposta que fez crescer esta alternativa é a mesma que o PSOL vem defendendo no Brasil desde o seu nascimento: basta de sustentar o lucro dos bancos à custa do trabalho do povo. O Brasil não vive, neste momento, uma conjuntura como a europeia. Mas a situação é tão preocupante que a presidente Dilma teve que vir à público afirmar que estamos “300% preparados” para enfrentar uma possível crise.
A questão é quais os interesses que o governo brasileiro quer proteger? Quem mais ganhou com a estabilidade até agora foram os bancos. E quem vai pagar a conta quando a situação se deteriorar? Na Europa a resposta dos governos já está clara, mas o povo grego busca um novo caminho. Não podemos esperar que o Brasil chegue à situação da Grécia para construir uma alternativa política que rejeite a lógica do capital.
Artigo publicado em Zero Hora, dia 26 de maio.