Jornal do Comércio, 21 de setembro de 2010
Jornal do Comércio, 21 de setembro de 2010

| Saiu na Imprensa

Universidade estadual cobra revitalização
Criada há uma década, instituição pública de ensino superior ainda não deslanchou

Criada em 2001 pelo governo do Estado e aprovada por consenso na Assembleia Legislativa, a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) está prestes a completar uma década. Mesmo previsto para ocorrer nos primeiros anos de criação, recém agora a instituição passou pelo processo de eleição direta do reitor. Até então, eram os governantes que indicavam o nome para o cargo. O professor Fernando Guaragna foi eleito com 51% dos votos, em julho deste ano, e aguarda a posse. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, apresenta um diagnóstico da Uergs, que hoje conta com 100 professores e 24 unidades. Entre os principais problemas estão escassez de recursos, falta de docentes, inexistência de plano de carreira e irregularidade na oferta de cursos.

Jornal do Comércio – Qual é a situação da Uergs hoje?

Fernando Guaragna – Infelizmente não houve a institucionalização. Para uma universidade funcionar tem que ter autonomia e relativa independência do ponto de vista didático. Isso não aconteceu. Ao trocar o governo, o gestor seguinte indicou o novo reitor.

JC – Como se fosse autarquia?

Guaragna – O Estado ainda vê a Uergs como autarquia. Essa mudança de cultura é fundamental. Houve distorções grandes. Quando assumia o novo governo, mudava a orientação pedagógica sem discussão interna adequada. Nessa última gestão houve redução na receita da Uergs. Na sua criação, eram R$ 40 milhões e caiu agora para R$ 25 milhões anualmente, incluindo folha de pagamento. Foi gritante a diminuição dos recursos e a reitoria foi apática.

JC – Como está o quadro de pessoal?

Guaragna – A lei de criação prevê 300 docentes. Hoje temos 100 em 24 unidades. Temos em torno de 2,5 mil alunos, mas potencial para chegar a no mínimo 6 mil. Há poucos recursos e são mal distribuídos. Tem unidades com quatro funcionários e nove alunos.

JC – Fecharam unidades?

Guaragna – Algumas estão com fechamento branco. A situação é precária em pelo menos cinco unidades, especialmente as afastadas dos grandes centros.

JC – Há previsão de concurso público para a Uergs?

Guaragna – Somente no último ano do governo (Germano) Rigotto (PMDB) é que se iniciou o processo de concurso, que deveria ter ocorrido no prazo de dois anos a partir da criação (2003).

JC – Os vestibulares têm ocorrido de forma regular?

Guaragna – Temos feito um enorme esforço para garantir essa regularidade. Inclusive houve um movimento no início deste governo de não ter vestibulares. Isso esvaziou a Uergs significativamente.

JC – Isso causa instabilidade…

Guaragna – É, uma insegurança. Queremos cursos legalizados e não turmas. Mas acontece isso: num ano abre uma turma, daqui a dois anos abre outra. Isso gera angústia. Há formandos que precisam completar uma ou duas cadeiras e, há dois semestres, não tem professor para a disciplina.

JC – E quem acompanha isso?

Guaragna – Existe o Conselho Consultivo Regional. Cada região da Uergs tem o seu, que é formado por Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes), prefeitos, universidades da região, inclusive privadas. O tipo de curso, por exemplo, é discutido no Conselho. Nesta gestão, a reitoria terminou com os diretores regionais e os conselhos não se reuniram mais. Isso gerou ainda mais distorções. Há regiões em que o curso está equivocado, mas a universidade não tem instrumentos para avaliar e interferir. Acaba fazendo que haja vestibulares quase sem procura.

JC – Isso gera problema de reconhecimento dos diplomas?

Guragna – Sim. Quem nos fiscaliza é o Conselho Estadual de Educação. No segundo semestre do ano passado houve praticamente uma intervenção branca, por falta de bibliotecas, laboratório, acessibilidade. O Conselho apontava os problemas e não havia solução. Chegou um momento que determinou que a Uergs resolvesse as questões básicas ou não reconheceria mais o diploma. Ocorreu uma intervenção branca, foi o fundo do poço, a própria existência da universidade foi colocada em xeque.

JC – Há previsão de posse?

Guaragna – Seria no final de outubro. Estamos pressionando. Em março do ano passado, fizemos paralisação para reivindicar a nomeação de 21 professores já concursados. Outro problema é a inexistência de um plano de carreira.

JC – Perdem-se quadros?

Guaragna – Isso provoca a falta de professores, porque pessoas qualificadas – com a falta de perspectiva e salário defasado, além da abertura de concurso nas federais – acabam buscando outras alternativas. Nas últimas semanas, perdemos 10 docentes. Sem essa discussão, a sangria de professores continuará.

Associação dos docentes quer ampliar os investimentos

A Associação dos Docentes da Uergs (Aduergs) está atenta à apreciação do orçamento estadual para 2011, que já tramita na Assembleia Legislativa. A entidade considera escassa a previsão para a Uergs, que para o próximo exercício tem indicados os mesmos R$ 25 milhões do ano anterior, acrescidos apenas da correção da inflação, 4%. “Nossa avaliação é de que R$ 150 milhões seria o adequado para que a Uergs pudesse operar”, opina o coordenador de comunicação da Aduergs, professor Maximiliano Segala. Além da questão orçamentária, a entidade também tem como pautas prioritárias a nomeação de professores concursados, realização de seleções, discussão do plano de carreira e a posse do reitor eleito Fernando Guaragna.

Fogaça, Tarso e Ruas prometem fortalecer a Uergs

O reitor eleito da Uergs, Fernando Guaragna, e os representantes da Aduergs estão levando as reivindicações da instituição aos candidatos ao governo do Estado. Foram procurados José Fogaça (PMDB), Tarso Genro (PT), Yeda Crusius (PSDB) e Pedro Ruas (P-Sol). Conforme Guaragna, todos se comprometeram com o fortalecimento da Uergs, com exceção da governadora, que não deu retorno à entidade.

Para Tarso, a Uergs precisa retomar a proposta de universidade vinculada ao desenvolvimento regional e a projetos microrregionais. “A Uergs tem que ser tirada da UTI. Ela pode ser pequena, mas forte, enraizada nas regiões em que está para proporcionar a base para o desenvolvimento e para compartilhar um processo de formação de professores”, avalia.

Fogaça defende a revitalização da Uergs e atribui à instituição um espaço complementar. “Ela não tem a dimensão de uma universidade federal. Por isso, tem papel complementar, de apoio ao desenvolvimento regional”, explica. Ele pretende incentivar cursos de Tecnologia de Alimentos, nas áreas de agroindústria, e de Desenvolvimento de Produtos, nas áreas industriais.

Pedro Ruas também assumiu o compromisso de atuar pela recuperação da Uergs, através da recomposição do quadro de professores. A assessoria de Yeda não respondeu às solicitações da reportagem.

GABRIELA ROSA/DIVULGAÇÃO/JC

FERNANDO ALBRECHT

Candidatos em ação
O P-Sol aposta que o corpo a corpo com o eleitor pode sim ser o grande diferencial dos candidatos do partido. Algo como devagar se vai ao longe. O candidato a governador Pedro Ruas apostou nos populares que foram ao Brique da Redenção, como este camelô. Ganhou o voto.

ADÃO OLIVEIRA

Sem PPP
O candidato do P-Sol ao Palácio Piratini, Pedro Ruas, defende que, após o fim dos contratos de concessões de rodovias no Rio Grande do Sul, os pedágios passem a ser comunitários. “Iremos devolver à União as federais e o que for do Estado não voltará a ser privado”, sustenta.