ARTIGOS
Os candidatos, por Flávio Tavares*
O mais positivo detalhe da próxima eleição presidencial é o nível intelectual dos candidatos, a experiência administrativa e, afiançando tudo isso, o passado de cada um. Pela primeira vez desde a redemocratização, não há aventureiros entre os pretendentes ao Palácio do Planalto.
Isto é tão promissor, que apaga (ou dilui) o confuso entrevero em que partidos supostamente antagônicos se juntam em promíscuas uniões políticas. No fundo, isso apenas revela a decadência da nossa vida partidária: os partidos transmutaram-se em aglomerados de gente em busca das benesses do poder, com seus “donos” provando a esmo o sabor das flores, como colibri em voo.
O essencial é que cada um dos quatro nomes apresentados até agora pode orgulhar-se do passado. Em 1989, a primeira eleição após o jejum da ditadura teve ainda tons de circo na enxurrada de 11 candidatos: entre eles, um tal de Marronzinho, além daquele que se notabilizou por só poder dizer “Meu nome é Enéas”.
Agora não há candidatos ridículos, pelo menos à Presidência. Mas há uma crítica a fazer: não aos candidatos ao Planalto e, sim, aos meios de comunicação. Imprensa, rádio e, mais ainda, a TV, continuam a valorizar as pesquisas de voto (a maioria sob encomenda), como se eleição fosse corrida de cavalos em que só vale o vencedor. Assim, abastarda-se a campanha eleitoral e se menospreza o debate sobre os grandes temas nacionais.
Além disso, sonegam-se informações essenciais, sobretudo na TV, que hoje dá a pauta comportamental do país. Sabe-se que José Serra é candidato, que Dilma Rousseff também o é, tal qual Marina Silva. Nada se diz, porém, do candidato Plínio Arruda Sampaio, que aos 28 anos de idade, em 1958, governou de fato o Estado de São Paulo (no auge da expansão) como coordenador do Plano de Ação do governador Carvalho Pinto. Depois, em 1963, deputado federal pelo Partido Democrata Cristão, relatou o projeto de reforma agrária, e por isso foi cassado e perseguido durante a ditadura.
Nesse tempo, Serra dirigia a UNE, Dilma era secundarista e Marina apenas uma criança entre os seringais. Mas o nome de Plínio não aparece nos noticiários nem nas pesquisas apresentadas aos eleitores, as quais se limitam aos “três principais candidatos”.
Quem define que são três? A característica da democracia é igualar os candidatos, nunca bani-los do conhecimento do eleitor.
Conheço Plínio Sampaio há quase 50 anos, tal qual José Serra. Ambos militaram na Juventude Universitária Católica, da qual Plínio (mais velho) foi presidente nacional, e se exilaram no Chile durante a ditadura. Conheço Dilma Rousseff dos tempos da resistência democrática e, depois, de quando trabalhamos juntos no Legislativo gaúcho. Jamais vi Marina Silva, mas sei da sua dedicação à Amazônia.
Acompanho a vida dos quatro e, por isto, não posso reduzi-los a três. Plínio Sampaio vem usando o diálogo pela internet, além de reuniões de debates pelo país inteiro, para compensar o desdém com que é tratado pela imprensa. Foi um dos fundadores do PT e seu candidato a governador de São Paulo em 1990, além de deputado federal. Deixou o partido no auge dos escândalos de anos atrás e integrou-se ao PSOL.
O aparente tom ranzinza do seu partido explicará o muro de silêncio ao redor do seu nome?? Lástima se assim for: Plínio é conhecedor profundo do problema agrário e seu nome – com os de Serra, Dilma e Marina – completa o melhor quadro de candidatos desde a redemocratização.
*Jornalista e escritor