Partidos gaúchos perdem 8,5% dos filiados em um ano
PMDB, PDT e PP são as siglas que tiveram maior queda no número de integrantes entre o ano passado e setembro de 2009
Levantamento realizado com base no número de filiados informados pelos partidos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que as siglas gaúchas perderam 8,52% de seus quadros em apenas um ano. Em 2008 eram 1.130.046 eleitores ligados a alguma das legendas. Em 2009, o total baixou para 1.033.732, uma diferença de 96.314 pessoas.
Este foi o segundo ano seguido de queda na participação formal dos eleitores. No período anterior (de 2007, quando havia 1.131.690 filiados, para 2008, quando eram 1.130.046), outras 1.644 pessoas já haviam se desligado.
Na comparação entre a quantidade de filiados informados entre setembro de 2008 e setembro de 2009 só três siglas gaúchas cresceram: PSDC, P-Sol e PRB. O único com representação na Assembleia Legislativa é o PRB, graças ao ingresso de Carlos Gomes, que deixou o PPS.
Percentualmente o PSDC aumentou seus quadros em 44,44%. O acréscimo, no entanto, não foi suficiente para ultrapassar a marca de 500 filiados. O P-Sol teve um aumento de 3,47% e chegou a 3.696 integrantes e o PRB cresceu 0,55%, alcançando 7.292 filiados.
Todos os outros 24 partidos gaúchos tiveram desempenho negativo e diminuíram o número de militantes. O que viu debandar o maior número de filiados foi o PDT, que baixou em 22.257 filiações. Em seguida estão o PMDB (19.947), PP (14.139), PTB (8.924), PT (7.914), Democratas (5.366), PSDB (4.957), PSB (3.485) e PPS (2.409).
Mesmo com a perda de milhares de quadros, estes partidos se mantiveram entre os maiores do Rio Grande do Sul. O PMDB continua o primeiro no número de filiações e chega ao final de 2009 com 207.344 filiados. Logo depois está o PDT, com 195.267. Na sequência, PP (169.771), PTB (106.309), PT (104.934), PSDB (75.873), DEM (50.719) e PSB (32.757). A ordem é a mesma de 2008.
Entre os partidos menores, o PR ultrapassou o PPS tornando-se o nono maior partido do Estado. A sigla aumentou de 22.009 filiados no ano passado para 23.931 em 2009. Já o PPS diminuiu a quantidade de militantes de 24.025 para 21.616.
No início de outubro, encerrou-se o prazo estipulado pela justiça eleitoral para que os candidatos a cargos eletivos na próxima eleição tenham a filiação deferida pelos partidos políticos.
Presidentes estaduais afirmam que redução é fruto de recadastramento
Os dirigentes estaduais dos partidos que tiveram as maiores quedas no número de filiados (PDT, PMDB e PP) afirmam que a diminuição é fruto de um processo de recadastramento realizado nas fichas de seus integrantes.
O presidente do PDT, Romildo Bolzan Jr., garante que com o processo a sigla ganhou em “qualificação”. “Tivemos ótimas filiações de quadros bastante qualificados. Nossa intenção é melhorar a estrutura e o programa, evitando a massificação”, argumenta.
Rospide Neto, da executiva estadual do PMDB, também informa a realização de um recadastramento das filiações. Mas reconhece que as inscrições têm diminuído, em parte pelo desencanto da população. “A política está muito malvista. Fica difícil para as pessoas que estão descrentes”, aponta.
Pedro Bertolucci, que assumiu a presidência estadual do PP neste mês, diz que o partido passou por um processo de depuração nas fichas cadastrais e garante que, apesar da diminuição, a sigla não perdeu vereadores, prefeitos ou deputados.
Comenta ainda que entre os projetos de sua gestão está coordenar um processo de filiação no início do próximo ano, com a premissa de assegurar que a base tenha “forte interação” com os programas do partido. “Não será só assinar a ficha e pronto”, promete o dirigente.
Siglas deixaram de ser atrativas, avalia cientista político
Mauricio Assumpção Moya, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), avalia que os partidos podem ter deixado de se tornarem atrativos para o exercício político dos cidadãos.
“Ou a pessoa se filia porque quer acesso ao poder ou porque o partido representa uma causa que lhe interessa. Como estas causas não estão mais sendo colocadas de forma clara, as siglas vêm se restringido a espaços para quem quer disputar poder. Têm se enfraquecido como instância de representação. Quem quer defender a floresta ou qualquer outra causa, se une à grupos de pressão”, observa o especialista.
Ele acrescenta que esta “desilusão” é também um fenômeno mundial. “As pessoas não procuram mais os partidos e sim entidades. As ideologias das siglas estão difusas e as pessoas têm se engajado em associações, ONGs, igreja, escolas de samba”, exemplifica, ao ressalvar que o alistamento dos eleitores nos partidos nunca atinge grandes percentuais da população.
Segundo ele, os laços que ligam o filiado ao partido também estão fragilizados e basta uma causa pequena para que o cidadão tenha motivos para se desligar do “compromisso” partidário.
“Para ingressar numa legenda, o cidadão tem que se sentir muito atraído. Mas para sair, qualquer desilusão vale”, comenta.
Apesar de considerar a questão da representatividade como causa secundária para a diminuição das filiações, Moya coloca que o fato de os partidos não se renovarem internamente e deixarem suas pautas programáticas defasadas também pesam para o eleitor não se inscrever como membro oficial das legendas.
“Os partidos no Brasil são novos e se preocuparam menos em ser representativos do eleitor. Alguns partiram para a massificação, com mais filiados, outros preferiram ter acesso ao poder para obter mais recursos, criando uma estrutura maior. Também falta oxigenação. Na maioria dos partidos, ela está comprometida pela permanência de líderes antigos que impedem a chegada de novas lideranças”, analisa.