Luciana diz que CPI não sai porque deputados recebem favores e provoca reação da base
A deputada federal Luciana Genro (P-Sol) negou ontem que ela e seu pai, o ministro da Justiça, Tarso Genro, estão por trás do vazamento de informações contra a governadora Yeda Crusius (PSDB). Luciana também voltou a pedir o impeachment da tucana e disse que ela “compra” o apoio dos deputados estaduais. A CPI não sai pela falta de provas. Além do mais, não vamos servir de palanque político para o PT”, protestou. Dos nove deputados peemedebistas, nenhum assinou a proposta de criação da comissão de inquérito.
Capoani também levantou suspeitas sobre a origem das denúncias divulgadas pelo P-Sol. Segundo ele, a Polícia Federal pode ter vazado as informações que chegaram a Luciana, filha do ministro da Justiça, Tarso Genro, pré-candidato ao governo gaúcho em 2010. “De onde o P-Sol tirou estas informações? Tinha que responder isso para tirar a suspeita sobre o pai dela”, argumentou.
Aloísio Classman, líder do PTB no Parlamento, desclassificou a afirmação de Luciana dizendo que “ela bate para tudo que é lado” e sugeriu que a parlamentar “deveria cuidar dos assuntos de Brasília, fiscalizando o governo federal”. Classmann garante que a preocupação do PTB é com a governabilidade. “O que ela diz não procede. A Justiça já está fazendo o seu trabalho. Não há porque tumultuarmos o Estado e antecipar a eleição, como querem alguns”, defendeu o petebista.
Pela oposição, o deputado estadual Adão Villaverde (PT) disse que a governadora agiu de forma “diversionista e leviana” ao atribuir ao ministro Tarso Genro e à PF a responsabilidade pelo vazamento de supostas irregularidades cometidas durante a campanha de 2006 e no transcurso do atual governo. Segundo o petista, Yeda age de maneira leviana ao imputar ao ministro o vazamento de informações, que em sua maioria, conforme o deputado, tiveram origem no próprio governo.
“É só lembrar de declarações como as do ex-procurador Adão Paiani, da ex-secretária de Transparência Mercedes Rodrigues, do ex-secretário de Segurança Pública Enio Bacci, da viúva do ex-embaixador do Estado em Brasília Marcelo Cavalcante, do ex-integrante do comitê eleitoral tucano Lair Ferst e do próprio vice-governador Paulo Feijó”, argumentou o parlamentar.
Camelódromo foi de solução a problema
Fernanda Melchionna
João acordava às seis da manhã. Ia à Rua da Praia vender as mercadorias que garantem o pão de cada dia. Depois de algumas horas de trabalho já dava para garantir o almoço e mais algum troquinho que servia para as despesas de casa. Lá pelas três da tarde era sempre igual: hora de guardar tudo ou até correr para escapar da fiscalização da prefeitura que teimava em confundir João com algum tipo de criminoso. No final do mês até dava para pagar as contas, talvez valesse a pena. Mas bem que seria bom ter a própria lojinha e vender sem precisar ser humilhado. Já fazia 15 anos que João repetia essa rotina e, finalmente, apareceu uma oportunidade. A prefeitura estava oferecendo um espaço no camelódromo, já que na rua seria proibido manter as bancas. João vendeu tudo o que podia, pegou as economias da família e resolveu acreditar. Quando chegou a hora de construir, era perto da eleição, como quase sempre acontece. Mas tudo bem, pelo menos o camelódromo estava lá. O sonho seguia de pé. Quando começou a trabalhar, o sonho passou a virar pesadelo. João foi para um lugar que tinha goteiras, era muito quente por falta de ventilação e, pior, era tão escondido que ninguém chegaria até sua lojinha. Engraçado, aqueles que fiscalizavam João na rua não tinham fiscalizado o empreendedor responsável pela obra. Pior foi quando chegaram as cobranças, João não tinha como pagar, não tinha vendido o suficiente.
Mas seguia acreditando. Participou de reuniões da qual saíram lindas propostas. Nenhuma foi cumprida. João cansou. Fez passeata, foi à Câmara de Vereadores, participou de audiências. Foi ouvido, mas não foi entendido. Não é que João não quisesse pagar, mas tinha que ter condições para trabalhar. Mais contas chegavam apesar de ter havido um acordo com a prefeitura e com a empresa de que estariam suspensas as notificações. Chegou o pedido de despejo, mas já tinham sido tantos empréstimos que não dava para se endividar mais. E agora, o que fazer? Essa é a pergunta que os porto-alegrenses precisam fazer ao prefeito Fogaça, porque a história de João poderia ser ficção, mas infelizmente não é. João é um camelô de Porto Alegre. João e todos os camelôs agora esperam a audiência com o próprio prefeito.
*Vereadora em Porto Alegre/P-Sol