A culpa é da corrupção
Fernanda Melchionna, vereadora de Porto Alegre
No dia 16 de julho, professores, estudantes e servidores estaduais organizaram um protesto contra a corrupção no Rio Grande do Sul. Mais um. Desde o ano passado, mobilizações vêm sendo realizadas para pedir a saída da governadora. Um importante setor do povo gaúcho demonstra nas ruas que não aceita mais a corrupção no governo, que vem sendo deflagrada desde 2007, o segundo ano de administração. As operações Rodin e Solidária, ambas da Polícia Federal, apontam para desvios em fraudes e superfaturamento.
O protesto do dia 16 foi em frente à casa da governadora, local que não foi escolhido em vão: a oposição e até mesmo ex-integrantes do governo denunciam que a mansão foi comprada com sobra de arrecadação irregular de campanha – caixa 2.
O ato foi pacífico, em local público, na rua. A maior parte dos manifestantes era de professores estaduais, aos quais não faltam motivos para protestar.
Em meio a tantas denúncias de desvio de dinheiro público para enriquecimento ilícito – feitas até por integrantes do governo –, a educação, a saúde e a segurança no Rio Grande do Sul cada vez mais são precarizadas. Alunos de duas escolas no Estado assistem a aulas dentro de contêineres. Os professores e funcionários públicos têm seus salários arrochados e o governo ainda tenta acabar com o plano de carreira do magistério.
Uma pena que o governo parece entender que protesto é crime. Agiu como nos tempos da ditadura. De forma violenta e arbitrária, a Brigada Militar agrediu os manifestantes. Duas dirigentes do CPERS-Sindicato, um fotógrafo, um estudante e eu, vereadora do P-Sol de Porto Alegre, fomos presos por exercer nosso direito de protestar contra a corrupção.
Mas não nos intimidaremos. Não esperamos nada de diferente deste governo que obstrui investigações, desmonta o Estado e reprime aqueles que ousam denunciar suas falcatruas. Aliás, se existe culpado para que manifestações ocorram todos os meses nas ruas de Porto Alegre, este é o próprio governo, com seus inúmeros escândalos de corrupção.
Sinto-me orgulhosa, na condição de vereadora e mulher, por integrar a grupo dos que se indignam e que não se calarão. Só a luta é que pode garantir que tenhamos sociedades mais justas e elas não existem onde há corrupção. Nosso mandato continuará engajado pelo Fora Yeda.
Só lamentamos que, em pleno século 21, persistam posições machistas, como a do colunista Fabrício Cardoso, que, como indica o texto “A culpa é do P-Sol” (Santa, 22 de julho), entendem que ser mulher limita-se a uma condição de beleza a ser “apreciada” pelos homens e que o voto possa ter alguma relação com a formosura dos candidatos e candidatas.