‘Não sei quem é o marido citado no e-mail’
Paula Coutinho
O economista Carlos Crusius, marido da governadora Yeda Crusius, recebeu a reportagem do Jornal do Comércio na sede do PSDB estadual, em Porto Alegre, na noite de quarta-feira, para entrevista exclusiva. Atualmente sem exercer nenhuma função no Executivo, ele falou sobre os desdobramentos das denúncias de que teria participado de um esquema de caixa-dois na campanha de Yeda, durante a disputa eleitoral ao Palácio Piratini, em 2006.
Crusius afirmou desconhecer os e-mails apresentados pelo P-Sol, cujo conteúdo mostra a negociação de supostas doações para a campanha de Yeda e faz referência ao “marido” como indicado para receber o dinheiro.
Também negou que tivesse atuado como arrecadador de doações e disse que sua participação no processo eleitoral foi de formulador do plano de governo. “Não recebi um tostão de contribuição para a campanha”, assegurou o economista, que é presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB.
Crusius integrou o Conselho de Comunicação do governo, mas, desde a extinção via decreto da governadora, garante que não tem mais nenhum vínculo com o Executivo estadual. Entretanto, acompanha de perto as repercussões das denúncias contra o Piratini e, assim como Yeda, vai acionar a Justiça. “Todas as medidas judiciais serão tomadas a seu devido tempo”, projetou.
Jornal do Comércio – Como o senhor reage às acusações de que teria participado de esquema de caixa-dois na campanha de 2006?
Carlos Crusius – Durante a campanha, eu não recebi um tostão de contribuição, quer do Marcelo Cavalcante, quer de outra pessoa qualquer. O fato de que a revista Veja fala, que o Marcelo teria me dado R$ 400 mil, não existiu. Ponto. O fato não existiu. Há pessoas que, melhor do que ninguém, sabem disso. Uma delas sou eu, outra é o Marcelo Cavalcante, esteja onde estiver. Lamento muito que ele não esteja vivo. Ele seria o primeiro a desmentir isso. Jamais trabalhei em arrecadação de dinheiro. Jamais.
JC – Nunca solicitou colaborações para a campanha?
Crusius – Várias vezes, várias vezes. Agora, esse negócio de pegar dinheiro, arrecadar dinheiro, isso jamais.
JC – O senhor não tinha conhecimento dos e-mails apresentados pelo P-Sol?
Crusius – Vi (as mensagens) só agora, depois de publicadas pela imprensa. Garanto o seguinte: não fui eu que passei os e-mails.
JC – Se surpreendeu ao ver referência ao “marido” no texto dos e-mails?
Crusius – Em primeiro lugar, eu não sei quem é o marido. Aliás, eu não sei quem mandou o e-mail. É muito kafkiano isso. Quando apresentaram as denúncias, apagaram o nome do interlocutor. Está escrito “atenciosamente” e não há o nome. Eu não sei nem se não é mulher (o interlocutor do e-mail). Como sempre são insinuações. O que eu sei é o que está na prestação de contas da campanha da governadora Yeda. A Braskem colaborou sim. São duas contribuições, uma em agosto e outra em outubro. Tudo por dentro, tudo legal.
JC – A propósito das insinuações, especula-se que o vice-governador Paulo Afonso Feijó tenha repassado os e-mails ao P-Sol…
Crusius – Não acredito que ele tivesse chegado a esse ponto. Eu, sinceramente, acho que tem limite para tudo. Acho que o vice-governador não ultrapassaria esse tipo de limite.
JC – Nesta semana além das denúncias de Veja, foram divulgados os e-mails apresentados pelo P-Sol.
Crusius – Se examinarmos, todas as denúncias têm a mesma natureza. Alguém disse alguma coisa: agora prova que tu não fizeste. Isso é a inversão do ônus da prova. É uma situação juridicamente diabólica. É incrível. É uma postura torpe, mas mais do que isso, agride os mais elementares princípios do Estado Democrático de Direito. Eu posso desconstituir tudo isso dos R$ 400 mil. Eu tenho sugerido à imprensa que procure identificar exatamente o que está por trás dessa loucura continuada que começa praticamente no início do governo. Quando o governo diz a que veio, começa esse troço.
JC – O que está por trás disso?
Crusius – Há um método nisso. Parece um bando de loucos, não estou afirmando, mas talvez alguns sejam. Parece algo irracional e selvagem. Há um método de desconstituir o governo, de atacar a governadora. E daí tanto faz, uma hora pega o marido, outra hora pega não sei quem, mas é sempre para atingir a governadora. Mas será que é só para atingir a governadora? Será que não tem 2010 na jogada?
JC – A disputa de 2010 começou já em 2007?
Crusius – Não só a local. Tem mais coisa aí. É uma pista que, eu acho, deve ser perseguida.
JC – A pressão não vem só da oposição. O líder da bancada do PMDB (partido que pretende lançar candidatura própria em 2010), deputado Gilberto Capoani, sugeriu que Yeda desista da reeleição, para evitar a continuidade dos ataques.
Crusius – Não sou um agente político, então, não vou entrar nesse tipo de análise.
JC – O senhor pretende processar alguém?
Crusius – Com certeza, todas as medidas judiciais serão tomadas a seu devido tempo.
JC – O governo tem sido alvo desde 2007 e o senhor tem acompanhado desde o início…
Crusius – Tenho o maior orgulho de ter participado da elaboração do projeto deste governo, que hoje, sob a liderança da governadora, colocou o Rio Grande do Sul no século XXI. Em 2005, a então deputada federal Yeda Crusius resolveu que não mais seria candidata à deputada federal e decidiu que se candidataria ao governo do Estado em 2006. Na época, o tema político era o pires em Brasília para reivindicar o cumprimento da Lei Kandir. Num almoço (antes da candidatura de Yeda), eu o Aod (Cunha, então presidente da FEE), Daniel Andrade e Fernando Schüler nos perguntávamos se o Rio Grande era viável. Havia o déficit estrutural. E, se há 40 anos estava assim, interesses não eram contrariados. Pelo contrário, as pessoas estavam relativamente satisfeitas. Colaborei com imenso prazer como aglutinador na formulação do plano de governo. E não foi fácil. Quem pensava que a agenda ajuste fiscal ia pegar na campanha? Ninguém. A governadora, com a sua qualidade, determinação e conhecimento, impôs essa agenda. Daí, dois anos depois zerou o déficit. E isso, certamente, contrariou interesses e mudou o patamar da discussão política. Hoje os assuntos são outros. Infelizmente, não tivemos uma oposição capaz de fazer discussões de alto nível neste novo patamar político. Vemos hoje um desespero, uma selvageria política em cima da governadora e do projeto que deu certo.
JC – Como o senhor tem acompanhado a possibilidade de instalação de uma CPI para investigar as denúncias contra o governo Yeda?
Crusius – É inacreditável o que acontece aqui no Estado, mas isso a Assembleia vai decidir. Eu conheço a governadora e sei que é uma mulher íntegra, determinada, fantástica, extraordinária, que enfrentou, inclusive, certo machismo. Muita coisa que dizem e fazem, não fariam se fosse um governador homem. Tenho absoluta certeza de que certos comentários maldosos não seriam feitos. Gostaria, sinceramente, que o nível de discussão política chegasse ao patamar que o governo alcançou em termos de gestão. Reclamam do governo, mas não é o governo que faz a interlocução política. E a oposição tem muita culpa nisso. A agenda do debate é só baixaria. Há uma franja da oposição que age com irresponsabilidade cívica, com irresponsabilidade política com o Estado.
JC – Depois de deixar o Conselho de Comunicação, extinto pela governadora, o senhor mantém alguma participação no governo?
Crusius – Hoje, no governo, não faço nada. Saí do Conselho, que a governadora, com muito bom tino, extinguiu e trocou por um Comitê Executivo de Comunicação e, hoje, eu não tenho nenhuma função no governo. Tenho minha militância política no Instituto Teotônio Vilela (órgão de formação política, do qual é presidente, no PSDB gaúcho) e faço o que gosto: discuto ideias.