P-Sol apresenta e-mails da campanha
Helen Lopes
Dirigentes do P-Sol apresentaram na tarde de ontem, em coletiva de imprensa na sede do partido, cópias de três trocas de e-mails que, segundo eles, reforçam os indícios de que a governadora Yeda Crusius (PSDB) praticou caixa-dois durante a campanha eleitoral de 2006.
Uma das correspondências eletrônicas também comprovaria que o marido da governadora, Carlos Crusius, tinha acesso à arrecadação, contrariando a versão de Yeda e do PSDB gaúcho de que os recursos seriam entregues apenas ao tesoureiro Rubens Bordini.
No primeiro conjunto de mensagens, datadas de 11 e 12 de setembro de 2006, um interlocutor, que teria pedido sigilo ao P-Sol, combina com o então diretor da Braskem Alexandrino de Alencar – hoje executivo do Grupo Odebrecht, que controla a empresa petroquímica – como seria “o encaminhamento da encomenda”, se pessoalmente a um diretor do PSDB paulista ou via conta-corrente. Em 12 de setembro, fica acertado que a entrega “deverá ser feita hoje com o marido”.
Na análise dos líderes do P-Sol, o marido seria Carlos Crusius e isso evidenciaria a participação direta dele no recolhimento de doações. “Demonstra claramente que Carlos Crusius era o receptor, seja do caixa oficial ou do caixa-dois, e desmente que apenas Bordini recebia o dinheiro. Não só não era apenas o tesoureiro, como poderia ter sido um dirigente, mas foi o marido”, acusa a deputada federal Luciana Genro. Entretanto, nos documentos apresentados não há a confirmação do encontro nem referência à quantia.
No sábado, após a publicação da reportagem da revista Veja, em coletiva de imprensa no Palácio Piratini, a governadora afirmou que “Carlos Crusius recebeu e ouviu a todos, mas jamais foi arrecadador de campanha”.
Em outro diálogo, o interlocutor pergunta a Alexandrino se há “alguma notícia pra nós?”. O diretor responde que “o pessoal da construtora foi procurado pela Yeda e ontem tivemos um alinhamento”. De acordo com o P-Sol, o e-mail mostra que a construtora Odebrecht estava negociando uma doação para a campanha da governadora, mas que os valores não teriam sido registrados. “Esses recursos da Odebrecht não constam na prestação de contas da candidata do PSDB, que está no site do Tribunal Superior Eleitoral”, informa Luciana.
Na terceira troca de e-mails, iniciada em 20 de novembro de 2006 – ou seja, após o segundo turno da eleição -, Juarez Molinari, dirigente do PSDB em Rio Grande e atual diretor Administrativo e de TI da CaixaRS, pede ao presidente da Federasul, José Paulo Cairoli, auxílio financeiro para fechar as contas da campanha. Cairoli responde que as empresas contatadas por ele haviam auxiliado conforme “as suas disponibilidades” e que não tinha conseguido novas adesões para a segunda etapa. O que chama atenção neste e-mail, segundo o P-Sol, é a relação dos doadores mencionados por Cairoli: Renner, Tumelero, Polo, Braskem, Puras e Ipiranga. As duas primeiras empresas listadas (Renner e Tumelero) também não estão nas contas da campanha tucana.
“Sabemos que não foi apenas um que entregou dinheiro ao senhor Carlos Crusius e fazemos um apelo para que os demais venham a público e ajudem a sociedade a se livrar dessa quadrilha”, denuncia o presidente estadual da sigla, Roberto Robaina. De acordo com ele, os e-mails foram repassados ao partido no domingo. A fonte, porém, teria pedido para ser resguardada por enquanto.
A reportagem entrou em contato com os citados pelo P-Sol. A direção da Tumelero informa que não fez nenhuma contribuição à campanha. Em nota, o presidente da Federasul disse que o e-mail falava apenas que as empresas referidas não complementariam as doações. Acionado via assessoria do PSDB, Carlos Crusius não respondeu às acusações. Juarez Molinari, Alexandrino de Alencar e a assessoria de imprensa da Odebrecht não atenderam às ligações da reportagem. A Braskem emitiu nota informando que fez duas contribuições legais de R$ 100 mil. O P-Sol não soube dizer se a referência a Renner era das Lojas Renner ou Tintas Renner.
Sigla vai entregar cópias ao MPE e ao MPC
Nesta semana os dirigentes do P-Sol pretendem entregar ao Ministério Público do Estado (MPE) e ao Ministério Público de Contas (MPC) as cópias dos e-mails apresentados ontem. Hoje, às 14h, eles irão solicitar ao presidente da Assembleia, Ivar Pavan (PT), urgência na votação do pedido de impeachment da governadora Yeda Crusius, protocolado pelo partido em 10 de junho do ano passado. Segundo o presidente estadual do P-Sol, Roberto Robaina, há elementos suficientes para pedir pelo menos o afastamento da governadora. Ele cita a CPI do Detran, a gravação de conversa entre o vice-governador, Paulo Feijó, e o ex-secretário Cézar Busatto e a compra da casa de Yeda, que, segundo Robaina, seria “incompatível com os rendimentos da então deputada”.
Na coletiva realizada ontem, os líderes do partido também avaliaram a reportagem da revista Veja desta semana. Para eles, as revelações de Magda Koegnikan, viúva de Marcelo Cavalcante, encontrado morto em 17 de fevereiro, confirmam as denúncias apresentadas pela sigla no mesmo mês. “Falamos que havia duas parcelas entregues por duas empresas fumageiras, mas não sabíamos os nomes. Agora, com a matéria da Veja, fica claro que um desses repasses foi por caixa-dois, porque não há registro”, disse a deputada federal Luciana Genro (P-Sol). “A confirmação do episódio da casa e da importância de Marcelo é fundamental. Estranhamos a demora com que o MPF está tratando o caso. Tememos pelo que pode acontecer com todo o material. Não desconfiamos do MPF, mas estranhamos que ainda não tenha ocorrido nenhum pronunciamento.”