Por Luciana Genro
Eduardo Cunha e seu “golpe paraguaio” sofreram uma grande derrota no STF. Gilmar Mendes mostrou mais uma vez que é um “juiz-político” de direita, e que já não tenta mais disfarçar isso.
Impeachment precisa de povo nas ruas, e as manifestações de domingo foram um fracasso. Mesmo 70% do povo rejeitando Dilma, poucos estão dispostos a ir para as ruas em apoio a um processo conduzido pelo corrupto Cunha e que levará ao poder o vice Michel Temer, que tem apenas 2% de popularidade e defende uma agenda cruel para o povo.
O PSDB também sofreu um abalo político importante. O tucano Eduardo Azeredo foi condenado a 20 anos de prisão, e uma nova operação da Polícia Federal está desbaratando o esquema de propinas na Petrobrás desde 1997, governo FHC. Como eu mesma disse a Aécio durante a campanha eleitoral, era o sujo falando do mal lavado. Está provado que no caso do mensalão o PT esteve mais para aluno do PSDB do que inventor da obra.
O PMDB está dividido, mas isso não é novidade. Fica claro, entretanto, de que lado está Michel Temer. Trabalhando para levar o poder na “mão grande”. Mas a derrota de Cunha é sua também, e o Senado deu aval para investigar se ele também não deu as tais “pedaladas”.
Por outro lado Cunha ganhou fôlego com a lamentável decisão de Teori de deixar para fevereiro a análise do pedido de perda de seu mandato – finalmente – feito por Janot.
O cenário ainda é incerto pois a crise econômica tende a se agravar no ano que vem. A luta do povo contra o ajuste, por salário, emprego, moradia e serviços públicos decentes vai ser mais necessária do que nunca.
Por fim, copio um trecho do artigo publicado por Vladimir Safatle na Folha de SP hoje:
“É certo que este álbum de fotografias inacreditável de um golpe primário mostra muito mais do que a inanidade da oposição e a inépcia do governo. Ele mostra que as saídas para a crise não estão dadas nos marcos postos pela crise atual. Se o governo conseguir sobreviver a este golpe, será difícil imaginar o que restará depois. Este é um governo sem rumo, governo de uma ‘conciliação’ que nunca houve, vítima de suas próprias escolhas. Ele continuará sem rumo e sitiado. Se, por sua vez, a oposição der o golpe, este será só o começo de uma das mais profundas crises institucionais e sociais que o país conhecerá. No poder, estará a mais crassa casta oligárquica à frente de um governo ilegítimo, com poderes policiais e repressivos reforçados.
O que se coloca a nós é a tarefa enorme de pensar saídas a partir do reconhecimento da verdadeira extensão dos problemas e do esgotamento das práticas de governo da nossa república.
Como costumamos dizer em psicanálise, a primeira condição para sair do problema é reconhecer seu verdadeiro tamanho.”